Psicologia

 

Psicologia do Desenvolvimento


INTRODUÇÃO
CRIANÇA ACTIVA OU PASSIVA
TEORIA DE JEAN PIAGET
NOÇÃO DE ESTÁDIO DE DESENVOLVIMENTO
- Estádio sensório- motor
- Estádio pré- operatório
- Estádio das operações concretas
- Estádio das operações formais
FREUD
DONALD WOODS WINNICOT
RENÉ SPITZ
- estádio não objectal
- estádio percursor do objecto
- Estádio do objecto Libidinal
Conclusão












Introdução

      A pesquisa no campo do Desenvolvimento tem-se vindo a expandir a um ritmo acelerado
e impressionante. O progresso torna-se especialmente evidente em áreas como a percepção
 da memória, linguagem, características de temperamento e ligação afectiva criança-mãe.
Durante as primeiras décadas deste século, os objectivos da psicologia do desenvolvimento
eram basicamente a descoberta e a descrição das tendências próprias de cada idade,
das características comportamentais cognitivas e físicas. Contudo os pesquisadores neste
 campo nos últimos anos passaram a preocupar-se cada vez mais com a explicação e
 com os processos e mecanismos subjacentes ao desenvolvimento humano. Algumas das
 razões para a existência de uma psicologia do Desenvolvimento é o facto de as reações
 dos seres humanos serem influenciadas pela sua história anterior de experiências.
É improvável que possamos entender os adultos a menos que apreciemos as relações precisas
entre as experiências da infância e as habilidades, desejos e crenças do adulto. As habilidades,
 motivos e medos dos adultos são melhor entendidos se for estudado o seu desenvolvimento,
 desde o início da infância. É útil podermos predizer o comportamento adulto a partir do conhecimento
das primeiras experiências.

    Na palavra psicologia, apresentamos a psicologia da criança como uma psicologia
 genética, isto é, como uma descrição de um desenvolvimento progressivo do espírito 
da criança. Salta aos olhos que há um desenvolvimento da personalidade e das suas
 diversas componentes, físicas e morais, desde o recém-nascido até ao adulto.

    Este desenvolvimento faz-se de maneira lenta e contínua, no entanto com momentos de crise
são passos em frente e com períodos de relativa estabilidade que são etapas. Mas por estes
 períodos de crise e de estabilidade não serem nítidos, não temos que nos admirar das divergências
existentes entre os autores.
    Há uma outra razão para esta divergência, não é evidente que o crescimento do corpo, da
afectividade, da razão e da liberdade vão a par. É nítido por exemplo que a crise fisiológica
 da puberdade e a crise psicológica da adolescência não coincidem perfeitamente. Conforme
determinado autor pôs em relevo tal ou tal aspecto do desenvolvimento da criança, assim
as suas divisões poderão ser diferentes das de outro. Finalmente não é preciso ter uma grande
para se dar conta de que há diferenças notáveis de indivíduo para indivíduo: as crises são
 muito acentuadas num , e quase inexistentes noutro, os momentos de relativa estabilidade,
 são mais ou menos longos, o indivíduo pode estar com avanço ou com atraso no seu desenvolvimento.
 Toda a determinação se faz aqui com base numa média: é verdadeira no conjunto, falsa em cada caso
individual.

    Tendo em conta todas estas reservas, é indispensável, para ver claro, distinguir etapas 
e descrever as características de cada uma. Isto não é importante apenas para a clareza do
espírito, é essencial para o pedagogo e o educador.











Criança Activa ou Passiva?


- Será a criança activa ou passiva frente ao mundo das pessoas e dos objectos?


- Será a criança fundamentalmente guiada pela experiência ou será capaz de seleccionar 
de modo activos as experiências que deseja compreender e investigar?


    A primeira perspectiva (John Watson, Bandura) mostra a criança como facilmente moldável
de acordo com os padrões escolhidos por quem toma conta dela. Estes constituem os moldes
que a criança irá imitar. Numa segunda perspectiva a criança é considerada activa, esta é
colocada como capaz de um maior grau de controlo do seu próprio desenvolvimento. Há limites aos
 poderes do meio ambiente para a modificação da criança. Está pressuposto que é inerente à mente
 humana o ser atraída pela compreensão e que é a maturação que determinará quando um simples
evento passará a ser encarado como um problema a ser entendido.
   Tanto a exploração do incomum como a construção mental de objectos ou ideias a partir de algum
 projecto prévio são propriedades inerentes ao ser Humano.








Teoria de Jean Piaget

                                                 


                      
    Jean Piaget considera que a criança tenta compreender o seu mundo através de um 
relacionamento activo com as pessoas e objectos. A partir dos encontros com acontecimentos,
a criança vai se aproximar do objectivo ideal que é o raciocínio abstracto. Piaget estimulou o
 interesse pelos estágios maturacionais do desenvolvimento e pela importância da cognição
para muitos aspectos do funcionamento psicológico, tendo actuado como uma contra força
 construtiva à ideia de que as crenças, pensamentos e modos de uma criança abordar problemas
são basicamente o resultado daquilo que se lhe ensine directamente. Piaget acredita assim que os
 objectivos do desenvolvimento incluem a habilidade para raciocinar de modo abstracto, para
pensar sobre situações hipotéticas de modo lógico e para organizar regras, por ele designadas
operações, em estruturas de nível superior mais complexo.





Noção de estádios de desenvolvimento


    A noção de estádio é, de certo modo, artificial e surge como instrumento de análise, indispensável
para a explicação dos processos e das características que se vão formando ao longo do desenvolvimento
 da criança.
    A criança, à medida que evolui vai-se ajustando à realidade circundante, e superando de modo cada
 vez mais eficaz, as múltiplas situações com que se confronta.    
   Se uma criança de 3 anos resolve determinado problema, suscitado pelo meio, que não conseguia aos
 2 anos, é porque possui, a partir de agora uma determinada estrutura mental diferente da anterior
 e, de certo modo, superior, porque lhe permite resolver novos problemas e ajustar- se à situação.  
   Os sucessivos ajustamentos da criança ao meio que se vão manifestando ao longo do seu
desenvolvimento devem interpretar- se em função desses mesmos estádios.   
   Os vários psicólogos da criança não são unânimes no que se refere à sucessão dos estádios,
na medida em que cada um os aplica como instrumentos da sua própria teoria explicativa.

    Piaget refere-se a estádios não numa perspectiva global, mas cada estádio não
 comportando todas as funções: mentais, fisiológicas, sociais e afectivas, mas somente 
funções específicas. Assim considera a existência de estádios diferentes relativamente à 
inteligência, à linguagem e à percepção. Piaget refere que a aceitação da noção de estádio 
exige determinados pressupostos, tais como:


- Carácter integrado de cada estádio. As estruturas construídas e específicas de determinada
idade da criança tornam- se parte integrante da estrutura da idade seguinte;

- Estrutura do conjunto. Os elementos constituintes de determinado estádio estão intimamente
 ligados entre si e contribuem conjuntamente para caracterizar determinada conduta;

- Todo o estádio tem um nível de preparação e um nível de consecução .O estádio não surge definido
 e acabado, mas evolui no sentido da sua superação.

- As crianças podem iniciar e terminar determinado estádio em idades diferentes. O período estabelecido
 para delimitar os estádios é médio.

    Os estádios de Piaget colocam a tónica na função intelectual do desenvolvimento.
 Ele não nega a existência e a importância de outras funções, mas delimita e especifica o campo
 da sua investigação ao domínio da epistemologia genética.

    A psicologia da criança, em Piaget, quase se identifica com uma psicologia da inteligência.







    Cada estádio é definido por diferentes formas do pensamento. A criança deve atravessar
cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo
 são sequenciais. Se a criança não for estimulada / motivada na devida altura não conseguirá
superar o atraso do seu desenvolvimento. Assim, torna-se necessário que em cada estádio
a criança experiêncie e tenha tempo suficiente para interiorizar a experiência antes de prosseguir
 para o estádio seguinte.

    Normalmente, a criança não apresenta características de um único estádio, com excepção do
sensório - motor, podendo reflectir certas tendências e formas do estádio anterior e / ou posterior,
Ex. : uma criança que se encontre no estádio das operações concretas pode ter pensamentos e
característicos do pré-operatório e / ou algumas atitudes do estádio das operações formais.








Estádio sensório-motor
(0 - 18/24 meses)

    Neste estádio a criança desenvolve a sua motricidade e os seus mecanismo sensorias, 
ou seja, ela desenvolve os mecanismos locomotores ( gatinhar e andar) e de preensão que 
lhe permitiram explorar o meio em que se encontra, ao mesmo tempo que desenvolve a visão,
 a audição, o tacto etc.

    Este estádio ao contrário do que se poderia pensar é de extrema importância para o
intelectual futuro, porque quanto mais estimulada for a criança, mais possibilidades ela terá de se
 desenvolver intelectualmente.

    Ao nascer a criança dispõem de um conjunto de reflexos, sendo a sucção um deles. O reflexo
 existe, porém só se revela na presença do estímulo que o consolida e exige o seu funcionamento.
 Quando a criança alcança o seio da mãe, o reflexo da sucção obtém seu estímulo adequado. Mais
tarde, levará todo o tipo de objectos à boca ( generalização do reflexo). 
    Com cerca de 6 meses o bebé já é capaz de procurar os objectos escondidos. Com um ano de idade a
criança experimenta activamente novos comportamentos. Tendo atirado um boneco que tinha na mão,
ao chão, a criança repete várias vezes e em várias posições esse mesmo comportamento para verificar e
feito obtido.

    
    Este estádio indica o contacto da criança com o mundo e o ínicio da sua exploração. 
A criança adquire um conhecimento prático do mundo que a rodeia.

Estádio pré-operatorio
(2 - 7 anos)

    Umas das características deste período é o desenvolvimento da actividade simbólica,
 caracterizada pelo facto da criança diferenciar o significante do significado.
A criança desenvolve a linguagem, estando esta muito ligada à função simbólica.
Características deste período de desenvolvimento:


Egocentrismo

- considerado como a incapacidade manifesta da criança de se por no ponto de vista do outro.

    A criança considera que o que é mais importante para os outros é o que é mais importante para si;
o objecto que fica mais perto dela é também o que fica mais perto de outra pessoa, mesmo que esta
se encontre no lado oposto, tendo por isso outros objectos que estão mais perto de si do que aquele que
 está mais perto da criança. A criança que tem um irmão dirá isso mesmo, que tem um irmão, mas se lhe
perguntar-mos quantos irmãos tem o seu irmão poderá dizer que não tem nenhum. Neste estádio, a criança
afirma mas nunca demonstra, porque o carácter social da sua conduta, dado o seu egocentrismo, não lhe
 permite provar as coisas perante os outros. A criança não sente necessidade de se justificar.


Irreversibilidade

-     Refere-se à incapacidade manifestada pela criança para entender a reversibilidade de certos
fenómenos, ou seja, ela não percebe que as coisas permanecem as mesmas, mesmo que sofram
 uma operação ( transformação ). É em consequência desta característica que se chama a este
 período pré-operatório. A criança mão entende o problema da conservação ( quer dos líquidos
 quer dos sólidos ). A criança não percebe por exemplo que a quantidade de massa e de água não
se altera apesar de mudarem de forma. A criança deste grupo etário não se consegue descentrar
 ou seja ela focaliza a sua perspectiva apenas numa dimensão do estímulo e não entra em conta com os
 outros factores.


Raciocínio Transdutivo

- é um tipo de raciocínio que parte do particular e chega ao particular. Referindo-se à sua filha, Jaquelina,
Piaget observa que o facto de ela ver o pai aquecer a água para fazer a barba, lhe permite concluir que
 sempre que se aqueça a água, é para o pai fazer a barba.


Animismo

– Tendência para considerar as coisas como sendo vivas, dotadas de intenções e de consciência.
 Esta característica exprime uma confusão entre a realidade objectiva e subjectiva. A criança observa
os objectos e apercebe-se de que são úteis para o homem, e por isso, confere-lhes intencionalidade.


Artificialismo

- é a crença de que as coisas foram construídas pelo homem ou por uma entidade divina, mas de forma
 semelhante ao da fabricação humana. A criança acredita que “ as montanhas crescem porque se plantaram
 pedras que foram fabricadas”


Jogo

- Para Piaget o jogo mais importante é o jogo simbólico (só acontece neste período), neste jogo predomina
a assimilação (Ex. : é o jogo do faz de conta, as crianças "brincam aos pais", "ás escolas", "aos médicos", ...).
o jogo de construções transforma-se em jogo simbólico com o predomínio da assimilação (Ex. : Lego -
a criança diz que a sua construção é, por exemplo, uma casa. No entanto, para os adultos "é tudo menos
uma casa").
- Inicialmente (mais ao menos aos dois anos), a criança fala sozinha porque o seu pensamento ainda não
 está organizado, só com o decorrer deste período é que o começa a organizar, associando os acontecimentos
 com a linguagem na sua acção.
A criança ao jogar está a organizar e a conhecer o mundo, por outro lado, o jogo também funciona como
 "terapia" na libertação das suas angustias. Além disto, através do jogo também nos podemos aperceber da
 relação familiar da criança (Ex. : Quando a criança brinca com as bonecas pode mostrar a sua falta de
amor por parte da mãe através da violência com que brinca com elas).


Realismo Moral

- a criança considera que os deveres e os valores t~em uma identidade própria, independentemente da
consciência do sujeito; impõem-se por si. A gravidade de um acto não é medida em função da intenção
 que o motivou mas em função dos prejuízos materiais. A criança que, ao ajudar a mãe a pôr a mesa para o
almoço, parte, sem querer, quatro copos, merece um castigo maior do que a criança que, para se vingar
 da mãe que lhe bateu, partiu um copo porque o atirou ao chão, propositadamente.



Estádio das operações concretas

(7 – 11/12 anos)

    O que caracteriza essencialmente este período é o facto da criança já possuir a noção 
de reversibilidade, isto é, já consegue operar mas somente se estiver na presença dos
 objectos sobre os quais irá recair a operação. A partir dos 6-7 anos, idade que coincide 
com o inicio da escolaridade básica, a criança pensa de maneira diferente que a criança
 anteriormente descrita. A criança já dispõem de estruturas operatórias que lhe permitiram 
seriar, classificar e numerar. A classificação exige o agrupamento por classes. A classificação
é um sistema de operações que implica uma relação de semelhanças e diferenças. A criança, é agora
capaz de agrupar diversos objectos pela sua cor, pelo seu tamanho e pela sua forma. A seriação consiste
 na ordenação de elementos segundo uma qualidade que varia. Trata-se de uma relação sobre assimetrias.
A criança já é capaz de pôr por uma ordem um conjunto de bonecas de vários tamanhos e fazer-lhes
corresponder as suas sombrinhas que também variam de tamanho.

    A inclusão de classes- é outra das características deste estádio, a presença desta estrutura permite
à criança um conjunto de relações em que se observa que uma classe pode conter outras classes inferiores,
 mas que lhe estão inclusas.
A relação com os outros- a criança deste nível etário tem tendência para simpatizar com as pessoas que têm
 os mesmos interesses que os seus, e que a valorizam. A simpatia supõem uma escala comum de valores,
que está na origem da troca, enquanto que a antipatia deriva da ausência de gostos comuns e de um certo
sentimento de desvalorização.

    A socialização- neste estádio a criança já é capaz de cooperar. A criança discute com as suas
companheiras para fazer prevalecer o seu ponto de vista. Ela já joga segundo regras e as crianças
controlam-se umas ás outras. Agora a criança, já pensa antes de agir, porque a sua capacidade impulsiva
tende a diminuir. Estas características andam associadas ao aparecimento da lógica, na medida em que esta
 implica um sistema de relações que exige a coordenação de diferentes pontos de vista.




Estádio das operações formais
(11/12 anos em diante)

    A partir dos 11/12 anos o jovem começa a libertar-se do concreto e a raciocinar abstractamente. Agora, já pode operar sem que seja necessário ter os objectos ou os seres perante si, para apoiarem a operação. O pensamento formal ópera sobre o
 pensamento simbólico, sobre a linguagem ou o simbolismo matemático. É possível fazer deduções, não
 tendo presente a realidade, mas sobre enunciados hipotéticos. De agora em diante, o jovem preocupa-se
 com problemas abstractos, como sejam os valores ou as ideologias, e interessa-se pelo futuro. A análise
 combinatória por exemplo, permite ao jovem tentar hipóteses de forma rigorosa e sistemática e não por
obra do acaso. Se apresentar-mos quatro frascos contendo líquidos incolores (A,B,C,D) e a seguir um
 quinto frasco (F) que combinado com qualquer coisa dá um liquido de cor amarela, o jovem faz um a
experimentação sistemática. Começa por combinar casa um dos quatro frascos com o liquido do frasco F e,
 caso não dê resultado, começa, por ordem, a associar os frascos dois a dois, com o conteúdo do frasco
 F: (A+B+F), (A+C+F), etc., até fazer todas as combinações possíveis.










Estádios Psicanalíticos de desenvolvimento segundo Freud




    À semelhança de Piaget, Freud também era da opinião de que a criança atravessa estágios.
Mas os estágios psicanalíticos não se referem à qualidade do raciocínio e, sim, ás zonas corporais
 mais altamente catexizadas, aos lugares do corpo onde são encontradas as fontes primárias de prazer.

    Durante a infância, a área ao redor da boca e as actividades da alimentação são catexizadas de energia
 e o bebé experimenta um grande prazer com a actividade oral. Daí o nome estágio oral.

    No decorrer do segundo e terceiro anos de vida, a região anal e as actividades envolvidas na defecação
passam a ser catexizadas. A criança experimenta agora uma grande satisfação através da estimulação
 da área do recto, em consequência das suas próprias actividades eliminatórias, e do tacto, banho e odor na
 região anal e dos seus produtos. Daí o nome de estágio anal.

    Durante os anos pré-escolares, são os genitais que passam a ser catexizados como fonte básica de prazer;
o nome dai resultante é estágio fálico. Nessa época a criança inicia o seu processo de identificação com o
pai do mesmo sexo, devido ao complexo de Édipo. Freud acreditava que a criança, no estágio fálico, tem
 desejos fantasiosos de afeição sexual pelo pai de sexo oposto. Inconscientemente, a criança tem medo de
que o pai do mesmo sexo que o seu venha a saber de seus desejos e fique chateado com ela. A fim de reduzir
 a ansiedade de possível punição do pai de mesmo sexo a criança defende-se identificando-se com este; um
processo similar ocorre com um adulto que se afilia ao grupo que o domina. A identificação da criança fá-la
 adoptar os valores do pai de mesmo sexo. Dado que a maior parte desses valores são do tipo
 “permitido - proibido”, pela sociedade, nasce o superego infantil. Devido ao facto de que a força do superego
 da criança influirá nos tipos de sintomas que mais tarde ela desenvolverá, se este for o caso, a
complexidade do complexo de Édipo será um determinante fundamental da personalidade adulta.

    Por ultimo, na adolescencia são os objectos do amor que são catexizados; daí o nome, estágio genital.

Se em qualquer estágio a catéxis é muito forte, a criança torna-se fixada, isto é resiste a passar para o
 próximo estágio. A fixação pode ocorrer nos estágios em que a criança, ou obtém excessiva satisfação
de desejos ou recebe quase nenhuma gratificação, em determinado estágio do seu desenvolvimento.

    Observe-se quão passiva e desamparada Freud tornou a criança. Piaget nunca sugeriu que a criança
não poderia passar do estágio sensório-motor para o das operações concretas, ou deste para o lógico formal
. Não existe o conceito de fixação na teoria Piagetiana, uma vez que ela considera a criança como em
constante crescimento. Em contraposição Freud entendia que experiências ambientais desfavoráveis
 poderiam impedir a criança desfazer novos progressos em direcção à maturidade emocional. É possível
 fazerem-se predições sobre a personalidade futura da criança, caso esta se fixe em alguns dos estágios
 iniciais. Supõem-se que a fixação em cada um deles tenha implicações diferentes na personalidade adulta.
Foi uma sugestão audaciosa a de que prazer insuficiente ou excessivo, durante o estádio oral poderia ter
efeitos indeléveis na criança, e provocar a formação no adulto de sintomas tais como o alcoolismo,
 a depressão e o pessimismo ou o optimismo excessivo. A fixação anal, conduz presumivelmente À
 avareza, ou compulsão, agressão e resistência passiva. A pompa, o narcisismo e o gabar-se em
excesso derivam de ma fixação no estágio fálico. No momento actual, essas ideias devem ser consideradas
 hipotéticas mas sem dúvida são imaginativas.









Donald Woods Winnicott



Segundo Winnicott (1979/1983 ), cada ser humano traz um potencial inato para amadurecer, para se integrar;
 porém, o fato dessa tendência ser inata não garante que ela realmente vá ocorrer, pois, para tanto,
depende de um ambiente facilitador que forneça cuidados suficientemente bons, sendo que, no início, esse
 ambiente é representado pela mãe. É importante ressaltar que esses cuidados dependem da necessidade
 de cada criança, pois cada ser humano responderá ao ambiente de forma própria, apresentando, a
cada momento, condições, potencialidades e dificuldades diferentes. Winnicot refere 3 etapas do
desenvolvimento, o estádio de dependência absoluta (dos 0 aos 3meses), o estádio de dependência relativa
 (dos 3 aos 6 meses), e o estádio de inquietude de posição depressiva (dos 6 aos 12 meses).

Em sua teoria, Winnicot afirma que o “estado de preocupação materna primária” implica em uma regressão
 parcial por parte da mãe, a fim de identificar-se com o bebé e, assim, saber do que ele precisa, mas, ao
 mesmo tempo, ela mantém o seu lugar de adulta. É, ainda, um estado temporário, pois o bebé naturalmente
passará da “dependência absoluta” para a “dependência relativa”, o que é essencial para o seu
amadurecimento.
A dependência absoluta refere-se ao fato de o bebé depender inteiramente da mãe para ser e para realizar
sua tendência inata à integração numa unidade. À medida que a integração se torna mais consistente, o
 amadurecimento exige que, vagarosamente, algo do mundo externo se misture à área de omnipotência do
bebé. Ser capaz de adoptar um objecto transaccional já anuncia que esse processo está em curso e, a
partir daí, algumas mudanças se insinuam. O bebé está a passar para a dependência relativa e pode se
 tornar consciente da necessidade dos detalhes do cuidado maternal e relacioná-los, numa dimensão crescente,
 a impulsos pessoais.

No início da passagem da dependência absoluta para a dependência relativa, os objectos transaccionais
exercem a indispensável função de amparo, por substituírem a mãe que se desadapta e desilude o bebé.
 A transaccionalidade marca o início da desmistura, da quebra da unidade mãe-bebê.

Na progressão da dependência absoluta até a relativa, WINNICOTT definiu três realizações principais:
 integração, personificação e o início das relações objectivas. É nesse período de dependência relativa que
 o bebé vive estados de integração e não integração, forma conceitos de eu e não – eu, mundo externo e
 interno, estágio de concernimento, podendo então seguir no seu amadurecimento, no que o autor denomina
 independência relativa ou rumo à independência. Aqui, o bebé desenvolve meios para poder prescindir
 do cuidado maternal. Isto é conseguido mediante a acumulação de memórias maternas, da projecção
de necessidades pessoais e da introjeção dos detalhes do cuidado maternal, com o desenvolvimento da
confiança no ambiente. É importante ressaltar que, segundo WINNICOTT (1988/2002), a independência
nunca é absoluta. O indivíduo sadio não se torna isolado, mas relaciona-se com o ambiente de tal modo que
 pode se dizer que ambos se tornam interdependentes.











René Spitz



Utilizando como quadro de referência a relação mãe criança fala-nos da existência de três estádios no
desenvolvimento, durante o período infantil. Para tal utiliza como pontos de referência o aparecimento de
 comportamentos específicos na criança, que ele chama de “indicadores” os quais revelam a existência de
 “organizadores do psiquismo”.



O estádio não objectal
( 0 aos 2 meses )
para definir este estádio, Spitz utiliza o termo de “não diferenciação”. O recém-nascido ainda não está
organizado em domínios, tais como a percepção a acuidade e o funcionamento; o ambiente não é
 percebido, a noção de interior/ exterior não existe, as partes do corpo não são percebidas como
 diferentes, não há separações entre pulsões e objectos dessas pulsões. Uma vez que ignora o mundo
 que a rodeia a criança não consegue reconhecer o objecto libidinal. Todos os seus afectos são também
 indiferenciados. A mãe nesta fase torna-se fonte de quietude face a estímulos de origem interna e externa,
 quando estes ultrapassam certo limite e a criança chora ou grita. Tal como Freud, Spitz entende que a zona
 bocal e a sensação de fome/não fome, é importante na diferenciação entre o dentro e o fora.



O estádio percursor do objecto
( 2-6meses)
Nesta fase a percepção visual mais reconhecida pelo bebé é a “face humana” começando a reagir pelo
sorriso e uma cara, familiar ou não. A criança percebe a face ainda apenas como um “sinal” não responde
 ao conjunto da face humana mas a um indicador “gestalt“ (constituído pela ponte, olhos e nariz, em
movimento e visto de frente)~. Este indicador gestalt não pode ser considerado um verdadeiro objecto e
por isso Spitz chama-o de pré-objecto, porque a criança não é capaz ainda de distinguir uma face
entre outras, não estando assim o objecto libidinal ainda estabelecido. A mãe através da sua atitude
emocional e afectiva favorece o aparecimento do sorriso, e potência o desenvolvimento da consciência
 no recém-nascido. Tem um papel importante nos seus processos de aprendizagem, sendo uma representação
 do meio ambiente.
Consequências do estabelecimento do 1ª organizador (sorriso)

- o bebé torna-se capaz de ultrapasse a recepção de estímulos internos em proveito dos externos

- formam-se traços mnesicos para reconhecer um rosto humano

- inicia-se a separação do Eu, o bebé adquiriu um “eu rudimentar” jogando à mãe o papel de um “eu auxiliar”.

- A criança passa de um estado passivo a um estado activo.

- A reposta pelo sorriso constitui a base de todas as relações sociais posteriores.




OEstádio do objecto Libidinal
(8-12 meses)-
A criança tem a capacidade para uma diferenciação preceptiva bem desenvolvida. Quando se encont5ra
frente a um desconhecido, confronta estes traços com os da cara familiar da mãe e apresenta então uma
 recusa de contacto acompanhada de angustia ( angustia do estranho), que é uma angustia de perca do objecto. A criança reage face ao rosto de um estranho porque se sente abandonada pela mãe. A mãe torna-se objecto libidinal.
Ocorre:

- mudança no aspecto somático com um desenvolvimento do aparelho sensorial necessário à percepção
 pela mielinização.

- mudança no aparelho mental pela multiplicação de traços mnésicos que permitem operações mentais mais
 complexas e sequências de acções dirigidas.

- Mudança na organização psíquica, porque estas possibilidades de acção permitem a descarga de tensão
efectiva dirigida e desejada.







Conclusão


Através da exploração dos estudos de vários psicólogos como Piaget, Winnicot, Spitz, e Freud foi
possível verificar as diferentes teorias que existem sobre o desenvolvimento. Este campo examina
 mudanças através de uma ampla variedade de tópicos, incluindo habilidades motoras, habilidades em
solução de problemas, entendimento conceitual, aquisição de linguagem, entendimento da moral e
formação da identidade. Assim viu-se a importância de uma psicologia do desenvolvimento para uma
 avaliação psicológica. É importante saber o que aconteceu na infância de um indivíduo para poder
 compreender os seus comportamentos.





 Psicologia e Direito – Convite para reflexões necessárias.

Por Eduardo J.S. Honorato e Denise Deschamps
imagem comunidade psicologiaSempre que aparece um caso na mídia envolvendo situações aparentemente “bizarras”, “estranhas”, ou relacionadas a comportamento patológico, logo temos menções a Psicologia, e claro, relacionadas ao Direito.
É interessante perceber que a formação em Psicologia quase nada, ou nada mesmo, traz em relação a essas duas ciências e seus possíveis encontros na atuação profissional. É claro que não estamos aqui falando da Psicologia Jurídica, especialidade da nossa profissão, que trabalha diretamente nesta junção, mas sim, em conhecimentos simples e básicos que poderíamos ter, para auxiliar nossos trabalhos, independente de áreas de atuação.
direitoLogo que implantaram as modificações em direito de família houve no Rio de Janeiro um grande encontro onde profissionais do Direito, Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise trocaram idéias sobre as questões que atravessam esses saberes, foi algo que todos que ali estiveram puderam atestar um grande crescimento em termos do seu pensar e atuar profissional. Temos notícias de alguns eventos que têm sido feitos a partir desses possíveis encontros entre essas áreas, só dar uma olhada na Internet e acharemos alguns com notícias e artigos produzidos, vale conferir.
Pensar no diálogo entre Direito e campo psi é sem dúvida pensar muitas vezes nos limites que constroem uma ética possível, levando em conta que todo fazer do campo psi se inscreve em dados de realidade que necessariamente desembocarão naquilo que existe enquanto leis que regulam as atividades humanas, afinal para isso elas são construídas, para traçar aquilo que se constrói no que denominamos como cultura. As relações humanas são orientadas e formuladas a partir das construções sociais de sua época, essas sublinhadas, ou pelo menos assim deveriam ser, pela legislação vigente.
A Psicologia no Brasil tem interessante percurso, hoje tenta se rever em suas origens, nesses aspectos acaba por questionar sua inscrição institucional e com isso na discussão em torno de alguns pontos, o Direito se faz presente e se torna inevitável uma reflexão a partir de alguns de seus pressupostos. Como falar de políticas públicas desconhecendo as questões legais? Atuação com menores infratores sem falar dos debates em torno da diminuição ou não da idade legal? Direitos dos portadores de transtorno mental e seus cuidadores? Guarda de menores em situações de risco ou ainda de separação do casal? Tantas são as questões que nos parece estranho que essa aproximação não seja algo contemplada mais amiúde, inclusive na própria formação dos novos profissionais.
O que falar da discussão em torno dos limites éticos da mídia na atualidade? Onde psicologia e direito caminharão de braços dados em uma promoção de um espaço possível de debate sobre o tema.
Pensamos que esses debates podem e devem ser empreendidos em outros setores que atravessam questões abordadas pelos profissionais desses variados campos.
Após alguns debates nas comunidades virtuais, webforuns, listas de emails, etc, recebemos um material bem interessante, sobre um curso.
http://www.visumconsultoria.com.br/cursos/
Pelo material divulgado na Internet, e por informações fornecidas pela organização do evento, achamos interessante repassar o material, bem como abrirmos alguns pontos para debates, pois temos aqui uma oportunidade de criar um espaço para trocar experiências e dúvidas. Temos alguns profissionais do Direito que participam sempre de alguns debates e isso pode nos trazer conhecimento.
Pensamos em algumas situações em que os conhecimentos de Direito podem ajudar bastante.
Homofobia - Temos visto uma grande mobilização social, com participação da nossa categoria, seja representada pelo CFP, seja pelas comissões existentes, apoiando esse projeto de Lei que pretende criminalizar as manifestações homofóbicas. Escrevemos alguns artigos sobre cinema que versavam sobre isso, e tivemos que recorrer a quem entende do assunto para podermos entender este projeto, seus “entraves” e suas “traves”. Essas questões de projeto de Lei, Leis, aprovações e todas as questões políticas que envolvem nossa profissão são muito pouco referenciadas na graduação de Psicologia.
Saúde Pública – Leis orgânicas de Saúde. Você as conhece? Pois deveria. Escrevemos sobre o filme SICKO em nosso site e recebemos vários emails de alunos e profissionais que desconheciam a legislação nacional sobre o nosso sistema de saúde. Ao estudar para um concurso um profissional da psicologia terá que se voltar ao estudo desses temas que implicarão em sua prática em medidas possíveis e entendimento de sua inserção. Hoje com as questões que envolvem a discussão em torno das já famosas 12 sessões dos convênios médicos que são possibilitadas para uma psicoterapia, nos levam a pensar ainda mais nessas intersecções de reflexão.
Documentos e Laudos – Elaborarar laudos não é uma tarefa simples e fácil, exigirá conhecimento específico. Desde a construção e decisão do processo de psicodiagnóstico até a redação dos mesmos. Existem resoluções específicas para isto, disponíveis no site Pol.org.br. Os psicólogos especialistas em Jurídica trabalham, alguns, trabalham em Varas de Familia e sabem como isso é solicitado. Você precisará conhecer um pouco de vocabulário jurídico para não cometer algumas “gafes” e muito menos cometer erros de elaboração ou até mesmo na própria avaliação da demanda, como temos sido convidados a pensar sobre pelos CRP’s de todo Brasil. Vários processos existentes no Sistema Conselhos são referentes a erros de elaboração de documentos oficiais. É bom ficar sempre atento a isso.
Direito Criminal x saúde mental – Incluídos em nossos trabalhos em cinemterapia, temos vários artigos que tratam da questão psicopatológica relacionados com Direito Criminal. Alguns deles foram publicados em nosso site e outros em nosso livro:
- Monster – Desejo Assassino – Trabalhamos questões de psicopatologia e psicanálise em nosso livro, com este filme, mostrando as questões psicodinâmicas de um psicopata.
- Valente – Neste filmes mostramos como um situação de extremo estresse (Transtorno de Estresse Pos-Traumático) pode levar a situações de crimes.
- Mr Brooks – Debatemos sobre possíveis patologias deste personagem criminoso e podemos adentrar na sua imputabilidade ou não, dado o caso complexo e comórbido que alí existe.
- O Exorcismo de Emily Rose – questões re psicopatologia, crime e religião
- O Adversário – questões de sociopatia, inserção social, mitomania.
Infância Roubada – Questões de pobreza e criminalidade, nas favelas sulafricanas que por analogia poderiam ser utilizadas para debates em torno dos Conselhos Tutelares e instituições que abrigam menores infratores aqui no Brasil.
Esta área envolve tanto a Psicologia, Psicopatologia quando o Direito. Você precisa conhecer quais casos são considerados imputáveis ou inimputáveis, até mesmo para as questões cotidianas no seu consultório.
Direito do Trabalho – Se você for atuar em empresas, na área de RH, é bom que conheça as nossas leis trabalhistas (CLT) e algumas leis adicionais, para evitar problemas. Existem Leis que delimitam até o que pode ou não pode conter em um anúncio de jornal de oferta de emprego. Nas rotinas de RH, você terá contato com informações sobre Direito Previdenciário, Normas de Segurança do Trabalho, laudos, perícias, aposentadorias, ou mesmo nas construções das “ISOS” etc. É uma área totalmente distante dos nossos cursos, mas que se entrecruzam na atuação profissional.
Direito de Família – Laudos são comumente solicitados nessa área, especialmente quando há disputa pela guarda dos filhos ou mesmo suspeita de maus tratos ou abuso. Ainda há o trabalho imprescindível do psicólogo nos casos de adoção. Já tivemos notícias de casos de profissionais que tiveram problemas éticos por elaboração incorreta deste documento. Fique de olho. Só se habilite a fazer caso tenha conhecimento para isso.
Ética – Existem questões legais referentes a utilização de declaração de comparecimento, utilização de códigos (CID e DSM) que devem ser respeitadas. É comum o empregador solicitar informações ao profissional, especialmente quando estes são atendidos pelo convênio. Cuidado na elaboração destes documentos. Nosso primeiro dever é com o sigilo e a proteção da confiabilidade.
Psicodinâmica dos transtornos – Você pode ser solicitado a dar explicações teóricas sobre um determinado quadro, como profissional habilitado. Sem qualquer relação com o caso em questão, mas como pesquisador ou informante. Saiba bem como referenciar esta explicação, utilizando o que é permitido pelo Conselho.
Essas são apenas algumas das muitas situações que nas quais um profissional da psicologia poderá se deparar com a necessidade de informações ligadas a área legal, buscar essas informações se tornará então, algo que faz parte da construção de um trabalho que dignifique tanto esse profissional como a toda a categoria ali representada por ele. Valerá muito estar atento para essas reflexões!
Alguns artigos podem ser encontrados em nosso site http://www.cinematerapia.psc.br

Vários estudiosos definem a psicologia atualmente como um estudo detalhado e de caráter científico do comportamento humano. Sendo o último, aquilo que caracteriza as ações do ser humano, compreende o falar, o caminhar, ler, escrever e etc. Mesmo existindo certa riqueza nos campos da psicologia, especificamente nas áreas práticas e de pesquisas a ciência é uma só, expressando-se através de diferentes linguagens.
A psicologia vem mesclada com a filosofia e com a religião, ela não nasceu científica. Possuindo um breve histórico. Contudo o Direito e a Psicologia possuem caminho em comum, ambos tratam do comportamento humano. Sendo o Direito o conjunto de regras para regular este comportamento descrevendo a conduta e forma de solucionar conflitos enquanto a psicologia tenta compreender as reações biológicas, comportamentais e de processos mentais.
No direito é uma disciplina aplicada e prática estudando as normas jurídicas enquanto estímulos vetores das condutas humanas. Logo, compreende o estudo de comportamentos individuais ou em grupos quando se desenvolve em ambientes regulados pelo Direito e até mesmo a evolução de tais normas dentro da sociedade. Assim, este estudo exerce grande influência e importância no que diz respeito ao assessoramento legislativo, contribuindo na elaboração de leis mais adequadas à sociedade, e no assessoramento judicial, colaborando com o sistema de administração da Justiça.
Entretanto a psicologia Jurídica, não é apenas um instrumento a serviço do jurídico. Analisa as relações sociais, muitas das quais não chegaram a serem selecionadas pelo legislador. Isto é, permanecem sem incidência normativa e constituem a grande maioria de nossos comportamentos sociais. Embora tenha adquirido popularidade nos últimos anos, continua a ser uma disciplina ainda por fazer. Permanecendo ainda longe de qualquer interferência no processo dos fundamentos do direito.
A verdade é que independente da nomenclatura existente, seja psicologia jurídica, ou mesmo, Psicologia Forense (Argentina) nos referimos á uma área que possui uma perspectiva que resulta num conhecimento específico, com o olhar e análise por todo conhecimento produzido pela ciência psicológica.
Como menciona Fátima França em sua obra “Reflexões sobre Psicologia Jurídica e seu Panorama no Brasil” e Jorge Trindade em “Manual de Psicologia Jurídica para Operadores do Direito” é necessário que seja feito um redimensionamento à compreensão do agir humano. A Psicologia Jurídica precisa de intervenções. Deve usar também como objeto de estudos as conseqüências das ações jurídicas sobre o indivíduo.
Assim ao advogado ela pode oferecer, enquanto profissional e pessoa humana, informações para as decisões judiciais. Logo, Direito e psicologia podem ajudar a promover um mundo melhor.
Esta união de ciências e também de conceitos deve ser entendida como um benefício para a sociedade. Pois ao estudar o comportamento e adequar a legislação de acordo com as conseqüências que acarretará, a justiça será aplicada. As normas com o passar do tempo acompanharão o avanço social de acordo com a necessidade do próprio homem. Como exemplos podemos citar o ECA ( Estatuto da Criança e do Adolescente) e a Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha) fatores que de certo modo inibem a violência doméstica assunto que causa tanto desconforto a sociedade e principalmente às suas vítimas . Mas que se tratada com um método diferenciado, função da psicologia no direito, pode não provocar tantas seqüelas. Proporcionando o crescimento dos indivíduos, mantendo uma posição crítica que garanta o desenvolvimento da sociedade e de suas instituições.
Afirmo que a teoria do direito deve atender à necessidade de integração dos conhecimentos sociais, pois os saberes individualizados e disciplinares já não encontram vez num mundo marcado pela complexidade e pelo avanço que é resultado do processo de globalização.

Camila Carvalho . Acadêmico do 5º Semestre do Curso de Direito do ICEC - Instituto Cuiabá de Ensino e Cultura

TÓPICOS DA TEORIA PSICANALÍTICA FREUDIANA



Prof. Laerte M. Santos


1. Freud nasceu em 1856 na Áustria e faleceu em 1939 em Londres.
2. Fundador da PSICANÁLISE ou TEORIA PSICANALÍTICA que é o campo de hipóteses sobre o funcionamento e desenvolvimento da mente no homem. Se interessa tanto pelo funcionamento mental normal como pelo patológico.
3. Freud demonstrou que o homem não é apenas um ser racional. Há impulsos irracionais que nos influenciam.
4. Estes impulsos irracionais se manifestam através do INCONSCIENTE
5. INCONSCIENTE = parte maior de nossa psique, não é uma coisa embutida no fundo da cabeça dos homens e nem um lugar e sim uma energia e uma lógica em tudo oposta à lógica da consciência que é a parte menor e mais frágil da nossa estrutura mental. Podemos imaginar a consciência como a ponta de um iceberg e a montanha submersa abaixo como o inconsciente. "A percepção que temos do mundo é consciência; as lembranças, inclusive a dos sonhos e devaneios são consciência. A memória é consciência e só há memória de fatos mentais conscientes. " (pág. 46, O que é psicanálise, Fábio Herrmann)
6. Características do INCONSCIENTE: opostas às características da consciência. Por isso desconhece o tempo, a negação e a contradição. Suas manifestações não são percebidas diretamente pela consciência por isso requer deciframento e interpretação. (Exemplo: nos sonhos o inconsciente se revela através de um conteúdo manifesto = o que aparece na consciência - e de um conteúdo latente = o conteúdo real e oculto). "O inconsciente... é uma interpretação ao contrário" (pág. 40, O que é psicanálise, Fábio Herrmann). Se como veremos o princípio básico do funcionamento da mente é, segundo Freud, o de evitar desprazer, o INCONSCIENTE é então o lugar teórico das representações recalcadas ou o próprio processo de recalcamento, que impede certas idéias de emergir na consciência.
7. A sexualidade tem uma importância fundamental na psicanálise mas não tem um sentido restrito, ou seja, apenas genital. Tem um sentido mais amplo = toda e qualquer forma de gratificação ou busca do prazer. Então a sexualidade neste sentido amplo existe em nós desde o nosso nascimento.
8. A partir deste sentido amplo da sexualidade podemos entender os princípios antagônicos que fazem parte da teoria psicanalítica freudiana: A) EROS (do grego clássico, vida) X THANATOS (do grego clássico, morte) B) Princípio do Prazer X Princípio da Realidade

- Eros = ligado às pulsões de vida, impulsiona ao contato, ao embate com o outro e com a realidade. Sendo a vida tensão permanente, conflito permanente coloca-nos no interior de afetos conflitantes e pode não ser a realização do princípio do prazer.
- Thanatos = é o princípio profundo do desejo de não separação, de retorno à situação uterina ou fetal, quer o repouso, a aniquilação das tensões. Está vinculado às pulsões da morte pois somente esta poderá satisfazer o desejo de equilíbrio, repouso e paz absolutos.
- Princípio do Prazer = é o querer imediatamente algo satisfatório e querê-lo cada vez mais. "É a tendência que, em busca da descarga imediata da energia psíquica, não quer saber de mais nada - nem do real, nem do outro, nem mesmo da sobrevivência do próprio sujeito" (pág. 95, "Sobre Ética e Psicanálise", Maria Rita Kehl). Não está necessariamente ligado a Eros mas de forma mais profunda a Thanatos pois "se o desejo do homem for o repouso, o imutável, a fuga do conflito, somente a morte (Thanatos) poderá satisfazer tal desejo." (pág. 63, "Repressão Sexual", Marilena Chauí)
- Princípio da Realidade = princípio que nos faz "compreender e aceitar que nem tudo o que se deseja é possível, que se for possível nem sempre é imediato, que nem sempre pode ser conservado e muitas vezes não pode ser aumentado." (pág. 63, op. Cit., Marilena Chauí). Impõe-nos limites internos e externos.
9. Psicanálise e Agressividade - Freud presumiu na nossa vida mental a existência de dois impulsos, o sexual e o agressivo. Os dois impulsos se encontram normalmente fundidos. Assim um ato de crueldade pode possuir um significado sexual inconsciente como um ato de amor pode ser um meio inconsciente de descarga do impulso agressivo. A agressividade tem uma origem biológica e social na teoria freudiana. A agressividade faz parte das pulsões de morte mas não está ligada exclusivamente a Thanatos. Está também ligada a Eros fazendo parte das pulsões eróticas. Isto acontece por exemplo quando tentamos modificar o outro ou o mundo para torná-los mais compatíveis com o princípio do prazer. No limite é uma tendência destrutiva mas também "representa a vocação humana para a rebeldia." (pág. 473, Os sentidos da Paixão, Maria Rita Kehl). Toda civilização faz um pacto pelo qual se reprime grande parte da agressividade em troca das vantagens da convivência humana. Mas o preço que pagamos é o de um rebaixamento geral dos instintos de vida e o excesso de repressão pode levar às doenças psíquicas. O ideal para Freud "seria um equilíbrio entre a realidade psíquica do homem e as exigências da vida em sociedade". (pág. 116 da apostila, Texto: O caso de Romualdo e a violência)
10. A nossa vida psíquica tem três instâncias segundo Freud: 1ª) ID = parte inconsciente formada por instintos e impulsos orgânicos e desejos inconscientes, (ou pulsões) que são regidas pelo Princípio do Prazer e são de natureza sexual no sentido amplo já explicitado acima. O Centro do ID é o Complexo de Édipo. 2ª) SUPEREGO = parte inconsciente. Instância repressora do ID e do EGO, proveniente tanto das proibições culturais e sociais interiorizadas "quanto das proibições que cada um de nós elabora inconscientemente sobre os afetos." (M. Chauí, op. cit., pág. 66). É o agente da civilização que tem o papel de dominar o perigoso desejo de agressão do indivíduo. Através dele a civilização consegue inibir a agressividade humana introjetando-a para o interior do sujeito propiciando o SENTIMENTO DE CULPA. 3ª) EGO = é a consciência submetida aos desejos do ID e repressão do SUPEREGO. Obedece ao Princípio da Realidade. Vive sob angústia constante pois busca um equilíbrio entre os desejo do ID e a repressão do SUPEREGO, busca satisfazer ao mesmo tempo o ID e o SUPEREGO. Quando o conflito é muito grande e o EGO não consegue satisfazer o ID este é rejeitado determinando o processo chamado REPRESSÃO. Mas o que foi reprimido não permanece no inconsciente e reaparece então sob a forma de SINTOMAS (=representantes do reprimido).
11. MECANISMOS DE DEFESA: O Ego não é somente consciência. Há funções inconscientes nele, os famosos Mecanismos de Defesa. Através deles o EGO dribla as exigências do ID e do SUPEREGO. "Diante de uma pulsão proibida, cuja satisfação daria prazer se o superego não se opusesse, há que convencer o princípio do prazer de que sucederá dor. Para efetivar esse truque, o EGO aciona uma espécie de alarma, um pequeno sinal de angústia, sempre que tal tipo de pulsão se lhe apresenta à porta. Como se dissesse ao ID: veja como isso que aparece bom, na verdade, dói. E o ID, enganado até certo ponto, cede energias para contrariar seus próprios fins pulsionais. Basta então ativar os MECANISMOS DE DEFESA, carregados dessa energia..." (O que é Psicanálise, Fábio Herrmann, pág. 52 e 53).
12. Segundo Freud há três fases da sexualidade humana (lembre-se do sentido amplo da sexualidade) que se desenvolvem entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos: 1ª) Fase Oral = prazer através da boca (ingestão de alimentos, sucção do seio materno, chupeta, etc...) 2ª) Fase Anal = prazer localizado primordialmente nas excreções e fezes, brincar com massas e com tintas, etc... 3ª) Fase Genital ou Fálica = prazer principalmente nos órgãos genitais e partes do corpo que excitam tais órgãos. Momento do surgimento do Complexo de Édipo.

13. COMPLEXO DE ÉDIPO = complexo de sentimentos e afetos com componentes de agressividade, fúria e medo, paixões, amor e ódio, oriundos dos desejos sexuais em relação aos genitores de sexo oposto que acontece entre os 5 e 6 anos de idade. O complexo de Édipo se manifesta no menino desejando a mãe e querendo eliminar o pai, seu concorrente. O medo da castração por parte do pai faz com que renuncie ao desejo incestuoso e aceite as regras ou a Lei da Cultura. Na menina se manifesta pelo fato de descobrir que não tem o pênis-falo, e com isto, sente-se prejudicada, tem "inveja do pênis". Ao perceber que a mãe também não o tem, passa a desvalorizá-la e, nessa medida, se dirige para a figura do pai, dotado de FALO e, portanto, cheio de poder e fascinação.
Observação: De acordo com a interpretação do psicanalista LACAN (nascido em Paris em 1901 e falecido na mesma cidade em 1981) o que provoca inveja não é o pênis anatômico, mas o PÊNIS-FALO, o objeto imaginário fálico, que tem o sentido de COMPLETUDE e de PLENITUDE NARCÍSICAS. Neste sentido o homem também tem inveja do pênis-falo. Com este sentido o FALO está presente em todos os seres humanos de tal forma que a falta do pênis nas meninas e mulheres simplesmente é negada. O falo é, em última análise, o significado da falta, conforme o define Lacan.
- Mas apesar de o menino abandonar o desejo pela mãe por medo da castração ela não deixa de acontecer para ambos os sexos e de forma simbólica de acordo com a interpretação de Lacan. CASTRAÇÃO no sentido simbólico significa a impossibilidade de retorno ao estado narcísico do qual fomos expulsos com o nosso nascimento. CASTRAÇÃO significa a perda, a falta, o limite imposto à onipotência do desejo. É um processo que já acontece desde o corte do cordão umbilical. A rigor quem castra é a mãe. Se a mãe permite a independência da criança, negando formar um todo narcísico com ela, ela castra. A castração é um evento absolutamente progressista na nossa vida e que torna possível a vida em sociedade e a nossa autonomia. Através da CASTRAÇÃO introduz-se a LEI DA CULTURA que é produto de Eros e não de Thanatos. A Lei não existe para aniquilar o desejo e sim para articulá-lo com a convivência social. "É a guardiã do desejo na medida em que o encaminha no sentido de uma subordinação ao Princípio da Realidade" (pág. 312, Os Sentidos da Paixão, Hélio Pellegrino)
- A CASTRAÇÃO nos faz sentir como seres incompletos, carentes. Mostra-nos que é da brecha entre tudo o que se quer e aquilo que se pode (princípio de Realidade) que nascem as possibilidades de movimentos do desejo. Mas o seu exagero pode trazer conseqüências negativas como as neuroses.
14. Psicanálise, razão e consciência - Descobrir a existência do inconsciente não é esquecer a consciência, a razão, e abandoná-las como algo ilusório e inútil. É pela consciência, pela razão, que desvendamos e deciframos o inconsciente. Em outras palavras, a razão não está descartada apesar das forças irracionais inconscientes. Longe de desvalorizar a razão a psicanálise exige que o pensamento racional não "faça concessões às idéias estabelecidas, à moral vigente, aos preconceitos e às opiniões de nossa sociedade, em que os enfrente em nome da própria razão e do pensamento." (pág. 356, Convite à Filosofia, Marilena Chauí)
15. Psicanálise e Ética - A psicanálise mostrou que uma das causas dos distúrbios psíquicos é o rigor excessivo do SUPEREGO, a CASTRAÇÃO excessiva. Quando isto acontece há dois caminhos não éticos: ou a transgressão violenta de seus valores pelos sujeitos reprimidos ou a resignação passiva de uma coletividade neurótica, que confunde neurose e moralidade." (pág. 356, op. Cit., Marilena Chauí). Não éticos porque a violência é introduzida: violência da sociedade que exige dos sujeitos padrões de conduta impossíveis de serem realizados e, por outro lado, violência dos sujeitos contra a sociedade, pois somente transgredindo e desprezando os valores estabelecidos poderão sobreviver. Em suma é necessária a repressão dos desejos, da sexualidade, para ser possível a convivência social e a ética "mas por outro lado a repressão excessiva destruirá primeiramente a ética e depois a sociedade." (pág. 356, op. Cit. Marilena Chauí). Segundo Freud o sujeito da psicanálise é responsabilizado, sim, por seu inconsciente pois "quem mais, além de mim, pode se responsabilizar por algo que, embora eu não controle, não posso deixar de admitir como parte de mim mesmo? Responsabilidade difícil de assumir, esta - pelo estranho que existe em nós, age em nós e com o qual não queremos nos identificar. No entanto, eticamente, é preferível que o sujeito arque com as conseqüências dos efeitos de seu inconsciente, fazendo deles o início de uma investigação sobre o seu desejo, a que ele permita que tais efeitos se manifestem apenas na forma do sintoma. Ou, o que é ainda mais grave, que o sujeito tente se desembaraçar do inconsciente, por meio dos atos de intolerância que projetam no outro o que o eu não quer admitir em si mesmo. A passagem por uma análise torna o sujeito não apenas mais responsável pelo desejo que o habita, mas também preserva as pessoas que lhe são mais próximas, aquelas que dependem de seu afeto e de sua compreensão - filhos, parceiros, subordinados etc -, de se tornarem objetos das projeções e das passagens ao ato de quem não quer assumir as condições de seu próprio conflito." (pág. 32, Sobre Ética e Psicanálise., Maria Rita Kehl).

 

 

A religião e o sujeito

      O sujeito procura um sentido para a vida, atrás de significados, de meios de se comunicar com o transcendente e principalmente força para enfrentar as situações do dia-a-dia. E para se sentir confortado vai à procura do discurso religioso.
      Um discurso coercivo que utiliza de ilusões para controlar o sujeito, pois se faz presente pelo simbólico e não pelo real. Enquanto real não tem eficácia.
      O sujeito, sentindo-se desamparado se apega às idéias religiosas que constroem a figura que toma o representante dessa religião, fazendo com que o sujeito controle o sentimento de desamparo.
      Constroem um Deus que possa ser juiz daquilo que seria próprio do sujeito, colocando-o numa situação de se sentir amparado. Esse representante é convocado a apaziguar aquilo que chamamos de desamparo ou medo.
      Se o discurso religioso não criasse  essa imagem de  Deus , seria difícil   o homem construí-la, pois sua figura humana é fundamental para nos colocar dentro da cultura.
      A figura de Deus é pesada e insuportável por ser tão perfeito, pois nos coloca numa condição  de perfeição, mas nunca nos igualaremos a Deus. E mantemos esse supremo em nossa condição de culpa que a psicanálise chama de dívida paterna.
      As doutrinas religiosas estão acima da razão. A razão não pode fazer parte de que são as idéias  religiosas, porque a ilusão tem haver com a possibilidade de um desejo com relação a uma proteção.
      O que mantém a esse discurso que não nos matamos um ao outro (como seria de nossa natureza), há uma interdição de Deus (forma que a sociedade achou para se manter e não ser exterminada).
      O discurso religioso tem o papel de incluir a experiência de vida de todos e fazer com que sejam tratados com igualdade, dentro da sua experiência, do seu modo de compreender e viver a fé, a sua religiosidade. Um ambiente plurarista de crescimento em conjunto de forma que todos se complementem.
                                                                                               
                                                                                                                      Rosiane/2002







O que é Psicologia?


Em linhas gerais a Psicologia é uma ciência que visa compreender as emoções, a forma de pensar e o comportamento do ser humano. Embora existam diversas áreas e linhas de atuação, a Psicologia busca o conhecimento e o desenvolvimento humano individualmente ou em grupo.
Algumas linhas da psicologia:

Abordagem Centrada na Pessoa

Gestalt


1920
Nacionalidade

Alemanha

A Gestalt surgiu nas primeiras décadas deste século como uma espécie de resposta ao atomismo psicológico, escola que pregava uma busca do todo psicológico através da soma de suas partes mais elementares; o complexo viria pura e simplesmente da reunião de seus elementos mais simples, era uma escola de adição. A Escola da Forma dizia o contrário: não podemos separar as partes de um todo pois dele elas dependem e não fazem sentido, pelo menos o mesmo, senão enquanto partes formadoras daquele todo.

Em seu início, havia duas correntes na Gestalt, a dos dualistas e a dos monistas: os primeiros acreditavam existir uma percepção mental que diferiria da sensorial. Sendo assim, perceberíamos os elementos separadamente e só então eles formariam o todo através de uma ação do espírito, de uma percepção mental. Um desenho, por exemplo, não é um todo, mas o que estaria produzindo a forma total que percebemos, o que ligaria seus elementos seria o espírito. Encontram-se nessa corrente muitos resquícios do atomismo psicológico, enquanto que os monistas realmente romperam com eles, ao sustentarem que as partes dependem mais do todo que ele destas, que é ele quem as determina. Para os monistas o esquema da percepção seria, basicamente: estímulos sensoriais -> forma -> sensação.

Para os monistas, forma e matéria não são separáveis, os elementos de uma forma não existem em si, singularmente, isso só seria possível através de abstração. Todos os elementos aparecem ao mesmo tempo, e um observar um ou outro, um tomar um ou outro como figura ou fundo tornaria a experiência diferente. Cada parte é percebida como elemento formador do todo, pertencente a ele.

A Gestalt como teoria filosófica

Em um âmbito filosófico (a Gestalt chegou a ser considerada uma 'filosofia da forma'), pode-se dizer que foi deixado de lado o ego cogito cartesiano para, como Husserl (que foi, de fato, mestre de Koffka, um dos papas desta escola), adotar-se um ego cogito cogitatum: não há uma ruptura entre consciência - ou sensação, no caso da escola da forma - e mundo. O "resíduo" a que se pode chegar por uma redução, uma dissecação do real - ou de uma forma - não é o "eu penso", mas a correlação entre o eu penso e o objeto de pensamento (o ego cogito cogitatum). Em suma, não existiria consciência enquanto tal, mas toda consciência seria consciência de.
Isso, porém, não se dá de forma separada, como pretendiam os associacionistas (escola da psicologia que predominou no século XIX), mas concomitante: tomemos como exemplo um carro na estrada, seguindo em direção contrária a você. Para os associacionistas, há um intervencionismo do pensamento, ou seja, suas sensações lhe dizem que o carro está diminuindo à medida em que se afasta, mas, sendo conhecedor das leis da física, ou mesmo já tendo passado por esta experiência, seu pensamento reagiria, corrigindo o equívoco. O dado sensorial seria menos real que a percepção, e interpretado de acordo com a experiência.
Já para a Gestalt, isso tudo aconteceria de uma só vez e não através da experiência, mas de acordo com o que é dado na situação em si. Cada vez seria diferente, se apenas um dos elementos formadores diferisse; o todo seria o que há de mais importante, o que vale aqui não é a experiência, todavia o agora e o que é dado nesse agora. Percebe-se de maneira diferente de acordo com o contexto em que o objeto/excitante está inserido, nossa sensação é global e varia dependendo do evento/forma.
Essa foi a concepção que acabou, por assim dizer, "triunfante" em relação à outra, e seus defensores, Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler, acabaram por se tornar figuras de maior importância na Escola da Gestalt.
Essa teoria da forma não se manteve apenas dentro dos limites da psicologia, mas pretendeu se estender à Física e à Filosofia, admitindo a existência de formas fisiológicas e de formas físicas, além das formas psicológicas: as primeiras dizem respeito aos organismos vivos, que funcionariam do todo para o uno; as células seriam dependentes do organismo e não o contrário porque este teria a capacidade de se adaptar. As segundas tratam do mundo físico: este tenderia, também, a um equilíbrio total, uma busca da boa forma, mais homogênea e simétrica. Finalmente, as formas psicológicas, que são colocadas de uma maneira bem materialista: os gestaltistas não admitem a existência de um espírito, de alma, mas que tudo se reduz à matéria bruta, sendo as formas psicológicas o subjetivo das fisiológicas e estas apenas reduzidas às formas físicas.

Organização Perceptual - Assimilação e Contraste; Figura e fundo

Somos bombardeados por estímulos físicos todo o tempo e, para compreendê-los, formamos organizações perceptuais (termo que se aplica tanto ao processo de organização quanto ao resultado em si). Há várias maneiras de se organizar esses estímulos, e, de fato, o fazemos, mas de tal modo que exista sempre apenas uma: nunca há dois tipos de organização em um só momento. Esse empreendimento se dá de maneira espontânea, inerente ao indivíduo, porém o consciente pode exercer um papel nesse processo, pois a organização perceptual ocorre dentro e fora da consciência: se a pessoa quiser, poderá criá-la conscientemente, mas se não o fizer, o inconsciente agirá.
Um ponto importante no processo de organização perceptual é a diferenciação do campo perceptual. A maneira com que a forma é apresentada pode, por exemplo, suscitar fenômenos como a associação e o contraste.
O primeiro destes princípios diz respeito a uma homogeneização das partes da forma a que somos compelidos quando não há fronteiras entre elas, ou quando não as percebemos. Os contornos se tornam importantes neste sentido: tendemos a tornar cada parte homogênea em matéria de luz; a assimilação pode acontecer quando há proximidade, especialmente quando estas áreas próximas não estão delimitadas. Já o contraste consiste em perceber-se uma diferença maior do que ela realmente é, e ocorre quando há uma separação das partes, quase de maneira contrária à assimilação.
Porém deve-se sempre lembrar que, tanto assimilação como contraste são "regidos" pela organização perceptual total, podendo, até mesmo haver a ocorrência dos dois fenômenos em um mesmo objeto, dependendo de, por exemplo, qual o fundo sob o qual está a figura. Estes dois conceitos, fundo e figura, são os mais simples da forma de organização perceptual: em qualquer campo diferenciado, uma das partes sempre parece "saltar", se salientar em relação às outras. A ela damos o nome de figura, sendo o fundo todo o resto.
O que nos permite diferenciá-los, enxergar uma separação entre ambos é o contorno: uma fronteira física que mais parece pertencente à figura, conferindo forma a ela. Se há uma inversão, se a figura passa a parecer fundo e vice-versa, então o contorno passará, logicamente, a parecer pertencer à nova figura. A figura sempre parece possuir o contorno. Se, em uma forma, não fica muito clara essa separação (sendo que sempre veremos uma parte como figura e outra como fundo; o que pode não ficar claro é o que qual das partes é definitivamente), há uma flutuação, percebemos alternadamente os elementos como figura e fundo; porém, sempre um de cada vez, e sempre um. Bom, nesse caso, ao acontecer essa flutuação, o contorno passa a nos parecer completamente diferente em cada um dos casos. Pode acontecer, também, de algo ser definido como figura embora não haja um contorno, uma linha física que o delimite: esse fenômeno é conhecido como fechamento e é muito comum, posto que certas formas estão de uma maneira que nos pareça completa, não cabendo ali nenhum tipo de modificação; é como se elas se bastassem, fossem suficientes, enfim, completas em si.
Na determinação de o que é figura e fundo influem diversos fatores, como tamanho e localização, ou, caso esses sejam os mesmos, a área que for menor ou mais fechada. Geralmente, o que pode ser agrupado com mais facilidade, pareça seguir uma "linha", for mais homogêneo, ou até mesmo o que for mais conhecido para quem observa (e aí entra a questão da subjetividade na percepção) passará a ser visto como a figura. Há até mesmo a influência do sistema nervoso e outros processos do tipo nessa determinação.
Figura e fundo são diferenciados não só em formas visuais, vale lembrar; tendemos a separá-los em todas as experiências de percepção. Na chamada música pop, por exemplo, geralmente percebemos a voz do cantor como figura e o instrumental como fundo, como acompanhamento.

Agrupamento Perceptual - Wertheimer

Pode haver, e na maioria das vezes há, mais de dois elementos na forma: nesse caso, o que seria figura? E fundo? Por quê? Max Wertheimer, tido como o fundador da teoria da Gestalt, propõe em seu "Raciocínio Visual" certos princípios, a seguir:

1) Proximidade
Em condições iguais, eventos próximos no tempo e espaço tenderão a permanecer unidos, formando um só todo:

OO OO OO OO OO OO OO
OO OO OO OO OO OO OO
OO OO OO OO OO OO OO

2) Semelhança
Eventos semelhantes se agruparão entre si:

O X O X O X O X O X O X O
O X O X O X O X O X O X O
O X O X O X O X O X O X O

Essa semelhança se dá por intensidade, cor,odor, peso, tamanho, forma etc. e se dá em igualdade de condições.

3) Semelhança + Proximidade
É a simples adição dos dois princípios anteriores, se em condições iguais:

OO OX XO OO
OO OX XO OO
OO OX XO OO

4) Lei da Boa Continuidade
É o acompanhamento de uns elementos por outros, de modo que uma linha ou uma forma continuem em uma direção ou maneira já conhecidas.

____|____ = ________ |

5) Pregnância
Há formas que parecem se impor em relação às outras, nos fazendo, por muito tempo, não conseguir ver outra forma de distribuição:

OO OO OO OO OO OO OO OO OO
OO OO OO OO OO OO OO OO OO
OO OO OO OO OO OO OO OO OO

6) Destino Comum
Há certos elementos que parecem se dirigir a um mesmo lugar, se destacando de outros que não o pareçam.

7) Persistência do Agrupamento Original
Em todos as formas, todos os estímulos, os elementos aproximam-se uns dos outros e tendemos a fazer com que os grupos continuem os mesmos.

8) Experiência Passada ou Aprendizagem
É a subjetividade do percebedor: para cada um a percepção pode ser diferente, de acordo com a experiência do indivíduo, de acordo com o que ele já viveu ou aprendeu, conheceu. Tomemos como exemplo um texto qualquer: para um analfabeto ou alguém que não conheça a língua em questão, parecerá uma confusã completa, mas, para aquele que saiba ler ou conheça a língua, parecerá inteiramente inteligível.

9) Clausura ou Fechamento
Os elementos de uma forma tendem a se agrupar de modo que formem uma figura mais total ou fechada.

Conclusão

Essas tendências ou princípios, dependendo de sua intensidade podem produzir efeitos diferentes, devemos sempre lembrar que, para a Escola da Forma, o todo não é apenas a soma das partes, sua essência depende da configuração das partes.
A partir disso, podemos trazer ainda algumas considerações e conceitos finais: a transposição das formas, por exemplo, é de um valor muito grande dentro do que foi dito no parágrafo anterior; podemos transpor a mesma forma a partir de elementos diferentes, de modo que a forma original ainda possa ser reconhecida, como em:

OOXX
OO, XX

ou em uma melodia cujas notas sejam aumentadas todas em um tom, ou seja, o todo é a configuração de seus elementos, mas também difere de acordo com os elementos em si. Porém, não podemos nos esquecer da parte-todo, isto é, que as partes dependem da natureza do todo.
Por último, vale falar, mais uma vez, sobre a subjetividade na percepção: deve-se levar em conta a experiência vivida pelo sujeito, o seu nível de conhecimento ou familiaridade com o assunto tratado et sic per omnia.
Enfim, a Escola da Gestalt não se limitou apenas à percepção, mas expandiu suas teorias a várias áreas de conhecimento, revolucionando a psicologia e influenciando diretamente muitos pensadores. Pode-se dizer, por exemplo, que o behaviorismo de Skinner bebe basicamente da fonte da Gestalt.
Esta foi e continua sendo uma escola revolucionária e de um imenso valor histórico.


Bibliografia
Links
Autor

Juliana Fausto
Data

maio de 1999


Psicodrama

O que é Psicodrama?


"Drama" significa "ação" em grego. Psicodrama pode ser definido como uma via de investigação da alma humana mediante a ação. É um método de pesquisa e intervenção nas relações interpessoais, nos grupos, entre grupos ou de uma pessoa consigo mesma. Mobiliza para vivenciar a realidade a partir do reconhecimento das diferenças e dos conflitos e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado, expandindo os recursos disponíveis. Tem sido amplamente utilizado na educação, nas empresas, nos hospitais, na clínica, nas comunidades.

O Psicodrama é uma parte de uma construção muito mais ampla, criada por Jacob Levy Moreno, a Socionomia. Na verdade, a denominação da parte foi estendida para o todo e, quando as pessoas usam o termo Psicodrama, estão, geralmente, se referindo à Socionomia. Ciência das leis sociais e das relações, a socionomia é caracterizada fundamentalmente por seu foco na intersecção do mundo subjetivo, psicológico e do mundo objetivo, social, contextualizando o indivíduo em relação às suas circunstâncias. Divide-se em três ramos: a Sociometria, a Sociodinâmica e a Sociatria, que guardam em comum a ação dramática como recurso para facilitar a expressão da realidade implícita nas relações interpessoais ou para a investigação e reflexão sobre determinado tema.

A Sociometria, através do teste sociométrico, mensura as escolhas dos indivíduos e expressa-as através de gráficos representativos das relações interpessoais, possibilitando a compreensão da estrutura grupal.

A Sociodinâmica investiga a dinâmica do grupo, as redes de vínculos entre os componentes dos grupos.

A Sociatria propõe-se à transformação social, à terapia da sociedade.

A Sociodinâmica e a Sociatria têm objetivos complementares e utilizam-se das mesmas técnicas: o Psicodrama, o Sociodrama, o Role Playing, o Teatro Espontâneo, a Psicoterapia de Grupo.

Enquanto técnicas, a diferença entre o Psicodrama e o Sociodrama consiste em que no primeiro o trabalho dramático focaliza o indivíduo - embora sempre visto como um ser em relação - e no segundo focaliza o próprio grupo.

A transformação social e o trabalho com a comunidade era o grande sonho de Moreno. No começo do século XX, ele ia às praças e ruas de Viena e relacionava-se com crianças e adultos, estimulando-os a descobrirem novas formas de estar no mundo. A filosofia do momento, que embasa a teoria e a prática psicodramática, foi sendo configurada através de sua observação do potencial criativo do ser humano.

Desde então, o Psicodrama vem se transformando, desenvolvendo-se como teoria e como prática. Profissionais da área clínica adaptaram-no para o atendimento processual em consultório, muitas vezes num enquadre de psicoterapia individual, trazendo novas contribuições para a teoria psicodramática do desenvolvimento emocional e para a compreensão da psicopatologia, assim como para a configuração de modelos referenciais na compreensão da experiência emocional humana e dos grupos. Neste contexto, mais comumente, a expressão dos impedimentos e conflitos envolve tensão, agressividade e, principalmente, o reconhecimento e acolhimento da dor psíquica.

Na última década, testemunhamos um resgate das origens do Psicodrama no teatro e no social, com inúmeras contribuições para a metodologia psicodramática. Novas modalidades do teatro espontâneo foram apresentadas para trabalhar questões humanas mantendo a privacidade das pessoas, condição necessária para o trabalho educacional.

A prática psicodramática, em suas inúmeras modalidades, começa pelo envolvimento das pessoas com o tema ou com a experiência a ser vivenciada, através de lembranças ou histórias do cotidiano dos indivíduos e/ou das organizações.

Cabe ao diretor manejar as técnicas psicodramáticas, como recursos de ação, para garantir o envolvimento do grupo e a escolha da cena protagônica, que refletirá a experiência dos presentes. Ele vai convidando todos para participarem na criação conjunta do enredo, favorecendo a emergência da realidade grupal.

Neste sentido, o Psicodrama é facilitador da manifestação das idéias, dos conflitos sobre um tema, dos dilemas morais, impedimentos e possibilidades de expressão em determinada situação. Fundamentado na teoria do momento e no princípio da espontaneidade, promove a participação livre de todos e estimula a criatividade na produção dramática e na catarse ativa.

Finaliza-se com os comentários, inicialmente dos participantes da cena e depois do grande grupo, com a identificação da realidade que acaba de ser vivenciada e com o levantamento de soluções possíveis para as questões abordadas.

No trabalho com o social, buscam-se soluções práticas e reais para os problemas, contribuindo para a descoberta de alternativas que promovam o desenvolvimento sustentável nas comunidades.

O principal objetivo da ação dramática é favorecer aos membros do grupo a descoberta da riqueza inerente em vivenciar plenamente o status nascendi da experiência grupal, participando com a maior honestidade possível no momento. Desta maneira, os participantes recriarão no grupo seus modelos de relacionamento, confrontando e sendo confrontados com as diferenças individuais, condição necessária para apreenderem a distinção entre sua experiência emocional e a dos outros, sendo cada um deles agente transformador dos demais.

O Psicodrama vem expandindo suas fronteiras, ampliando a diversidade de experiências de intervenção psicossocial . Acompanhando esta expansão, a produção científica tem procurado aprofundar as questões provocadas por esta prática renovada.

Os psicodramatistas são profissionais de diferentes áreas: médicos, psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, profissionais de RH, todas as pessoas que em seu exercício profissional trabalham com grupos.

A Federação Brasileira de Psicodrama - FEBRAP dedica-se ao ensino e ao desenvolvimento da proposta socionômica de Moreno, promove eventos científicos - com destaque para o Congresso Brasileiro - e intercâmbio com a comunidade científica internacional, sempre estimulando a reflexão sobre a teoria e prática do Psicodrama, seus alcances e possibilidades de intervenção social.


Psicanálise

O que é Psicanálise?

A psicanálise surgiu na década de 1890, por Sigmund Freud, um médico interessado em achar um tratamento efetivo para pacientes com sintomas neuróticos ou histéricos. Através de conversas com estes pacientes, Freud acreditava que seus problemas originaram-se de inaceitação cultural, sendo assim reprimidos seus desejos inconscientes e fantasias de natureza sexual. Desde Freud, a Psicanálise se desenvolveu de muitas maneiras, e atualmente há diversas escolas.

O método básico de Psicanálise é a interpretação da transferência e da resistência através da análise da livre associação. O analisante numa postura relaxada,é solicitado a dizer tudo o que lhe vem à mente. Sonhos, esperanças, desejos, e fantasias são de interesse,como também as experiências vividas nos primeiros anos de vida em família. Geralmente o analista simplesmente escuta, fazendo comentários somente quando no seu julgamento profissional visualiza uma crescente oportunidade para que o analisante torne consciente os conteúdos reprimidos que são supostos a partir de suas associações. Escutando o analisando o analista tenta manter uma atitude empática de neutralidade. Uma postura de não-julgamento visando criar um ambiente seguro.


Comportamental

O que é Psicologia Comportamental?

“Psicologia Comportamental” é uma denominação excessivamente genérica. De uma maneira imprópria, esta denominação pode englobar visões-de-mundo, pressupostos e conjuntos tecnológicos muito diferentes, muitas vezes incompatíveis entre si, tais como, por exemplo, o behaviorismo primitivo tal como formulado por Watson em 1913 e conhecido como Behaviorismo S-R, o behaviorismo mentalista de Hull e o behaviorismo mediacional de Tolman, a análise do comportamento de inspiração skinneriana, o neobehaviorismo metodológico que encontra sua expressão mais madura nos cognitivismos contemporâneos, o conjunto eclético e empirista das chamadas “comportamentais-cognitivas” e ainda outras práticas que eventualmente usam o adjetivo “comportamental” para qualificar, muitas vezes inapropriadamente, o seu substantivo. Assim, embora de uso comum por profissionais estranhos à área, a denominação “psicologia comportamental” simplesmente não faz sentido e não se pode saber o que se deve entender por ela.

Pes
soalmente, sou um estudante – esforçado! – da análise do comportamento ou, mais precisamente, da Ciência do Comportamento, uma matriz conceitual que engloba como componentes necessários (1) o Behaviorismo Radical, que é uma filosofia da ciência, (2) a Análise Experimental do Comportamento (AEC), que é uma estratégia de investigação, (3) a Análise do Comportamento (AC) propriamente dita, que é o corpo de conhecimentos conceituais indutivos derivados da Análise Experimental do Comportamento e (4) a Análise do Comportamento Aplicada, que são conjuntos tecnológicos aplicados derivados da AC e da AEC destinados à intervenção nos problemas práticos de comportamento e que se constitui, atualmente, da Modificação do Comportamento, da Intervenção Clínica Analítico-comportamental, da Tecnologia do Ensino, da Análise Comportamental das Organizações (Organizational Behavior Management ou Performance Appraisal), da Medicina do Comportamento e da Análise Funcional da Enfermidade (contextos médico-hospitalares) além de aplicações particularizadas, tais como em problemas sociais (Behavior Analysis for Social Action), autismo, engenharia de segurança, marketing, etc.
Representando um rompimento verdadeiramente radical (pela raiz) com a psicologia tradicional, é somente através do conhecimento da matriz conceitual como um todo, na plena articulação dos seus componentes, que se pode apreciar criticamente a ciência do comportamento e talvez por isso, e por ser um campo lingüístico muito recente (tem menos de 50 anos), é uma proposição ainda virtualmente desconhecida, mesmo no meio profissional da psicologia e áreas afins.

O pouco que habitualmente se conhece – e se critica - restringe-se o mais das vezes a um entendimento fragmentário do primitivo Behaviorismo S-R (estímulo-resposta), já há muitas décadas de interesse somente histórico para o analista do comportamento. Por outro lado, é somente na perspectiva da Ciência do Comportamento que posso responder às perguntas aqui formuladas, o que me leva a recear pela inteligibilidade que minhas respostas possam ter.



02} Para quais casos clínicos esta abordagem seria mais indicada?



RESPOSTA:
A Ciência do Comportamento e, por conseqüência, suas aplicações clínicas, tais como a Modificação do Comportamento e a Intervenção Clínica Analítico-Comportamental, não é propriamente uma “abordagem da psicologia”, embora seja, é claro, uma abordagem aos fenômenos comportamentais, no sentido original do verbo francês aborder = maneira de se aproximar ou juntar as bordas.

A Ciência do Comportamento constitui um campo disciplinar por direito próprio, uma ciência natural, com afinidades epistemológicas, conceituais e metodológicas com a física, a química e a biologia contemporâneas. Já se vê daí
que “casos clínicos”, entendidos como os são as entidades psiquiátricas, não fazem muito sentido numa perspectiva analítico-comportamental. A idéia médico-psiquiátrica convencional de que existe uma “doença” ou um “distúrbio” independentes da pessoa que os experimenta, bem como a idéia de uma psicopatologia formista, como as apresentadas nos DSM’s e nas CID’s, é estranha à análise do comportamento. Simplificando ao extremo, consideramos a análise das relações funcionais entre o comportamento da pessoa e seu ambiente e da menor ou maior produtividade dessas relações, no sentido de gerar estados corporais que chamamos coloquialmente de bem-estar, alegria ou liberdade para a pessoa e, forçosamente, para a sua comunidade.

Assim, embora ocasional e coloquialmente possamos utilizar esses termos, o objeto das nossas considerações não é “entidades” ou “casos clínicos”, mas os resultados relacionais da ecologia comportamental dentro da qual se dão as interações entre cada pessoa, única e singular por sua filogênese, ontogênese e cultura, e o mundo em que vive.

Contudo, se é para se tomar como referência padrões estatísticos ou hipotéticos médico-psiquiátricos, temos intervindo com bons resultados, mensuráveis e mensurados, em padrões ditos depressivos e nos ansiosos, nas desorganizações pervasivas chamadas de transtornos da personalidade, nos transtornos somatoformes e sexuais e, mais recentemente, nos quadros de grave desorganização funcional do comportamento quando refratários ao controle químico, como no construto psiquiátrico de
esquizofrenia. Em especial, estamos entusiasmados pelos avanços que vimos obtendo em padrões até então considerados de difícil modificação, como nas adições químicas e sociais, nos transtornos alimentares, nas parafilias, nos transtornos do comportamento repetitivo (como no TOC e Tourette), no manejo da dor crônica e no comportamento anti-social, dentre outros. Tudo indica que temos oferecido a melhor, se não a única, alternativa para o tratamento químico do autismo – reconhecidamente insatisfatório - e de outras desorganizações chamadas de desenvolvimento.

Que não fique, porém, a impressão de que seja só de flores o panorama acima desenhado. Estamos enfrentando dificuldades diferenciadas em cada uma destas intervenções e o avanço não é uniforme para todas elas e nem mesmo dentro de cada uma delas.

Entretanto, não há razões para acreditarmos que os problemas para os quais ainda não encontramos solução sejam, por qualquer título, de natureza diferente daqueles para os quais soluções já foram encontradas. Isso nos anima a persistir no caminho que escolhemos.



03}Que diferença a abordagem da Psicologia Comportamental apresenta em relação às outras quanto ao método utilizado na terapia?



RESPOSTA:
Com a ressalva de estar falando somente sobre a aplicação da Análise do Comportamento denominada Intervenção Clínica Analítico-comportamental, temos algumas diferenças formais mais facilmente detectáveis, tais como, por exemplo, uma maior diretividade na condução da intervenção, o fato de irmos além da interação verbal, intervindo também através da disposição de contingências não-verbais, o fato de não estarmos restritos ao consultório, muitas vezes intervindo no ambiente natural do cliente ou em outros contextos extra-consultório e, em geral, numa ênfase menor nos aspectos formais (topográficos) da intervenção clínica, quando comparados aos demais modelos.

Entretanto, a maior diferença está menos nos aspectos formais e mais nos pressupostos orientadores da intervenção (quando
e porque fazemos o que fazemos) e em pelo menos três outras exigências, sobre as quais a nossa comunidade mantém um certo consenso: (a) as variáveis independentes e dependentes consideradas precisam ser naturais, (b) toda e qualquer intervenção que praticamos precisa estar fundamentada em achados experimentais e (c) toda e qualquer intervenção pontual precisa ser mensurada e ter a sua evolução acompanhada ao longo do tratamento, para fins de correção de curso e como indicador de
validade da intervenção (Avaliação Funcional). Essas e outras diferenças decorrem do projeto fundamental da análise do comportamento, que é o de construir um conhecimento naturalístico e empiricamente referenciado do comportamento, o que implica na recusa intransigente em considerar qualquer variável independente que não seja natural, isto é, que não possua dimensões físicas e/ou temporais discerníveis pelos órgãos sensoriais de um ser humano comum. [Não se deixe assustar pela palavra “intransigente”; aqui, ela tem a função de demarcar uma identidade. Você mesmo é possivelmente intransigente com respeito ao uso do seu nome próprio].

Em função da poderosa tecnologia de modificação do comportamento que vem desenvolvendo, a Análise do Comportamento mantém também com intransigência um princípio ético fundamental, para toda e qualquer aplicação: é preciso que o analista do comportamento esteja seguro, além de qualquer dúvida razoável, de que a intervenção que pretende fazer beneficie primariamente a pessoa cujo comportamento se considera modificar.



04} Como está o campo de produção de pesquisa na área da Psicologia Comportamental? Há muitas pesquisas publicadas ,acessíveis aos alunos, na biblioteca da UFSJ?



RESPOSTA:
Novamente restringindo-me à Análise do Comportamento, temos várias associações profissionais dedicadas à divulgação e informação sobre esta disciplina. No Brasil, temos, desde 1992, a Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental (www.abpmc.org.br) que promove um evento anual – com comparecimento de mais de 1000 participantes à cada evento - além de participar de eventos regionais também anuais.

Sob a chancela da ABPMC é publicada a coletânea “Sobre comportamento e cognição”, agora já no seu décimo volume e o periódico Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, ambas as publicações disponíveis na Biblioteca da UFSJ e, cada uma delas, sempre apresentando uma vasta relação de referências bibliográficas. Para um acesso em espanhol, além da ABA-Colômbia (www.abacolombia.org.co), visite também a ConTextos (www.conducta.org).

Com webpages em língua inglesa, temos as ABA (Association for Behavior Analysis) tais como a ABA-EUA (www.wmich.edu/aba),
ABA-Japan, EABA-Europa (European Association for Behavior Analysis), todas ativas e cada qual publicando seus próprios livros e periódicos e promovendo eventos anuais e regionais que congregam habitualmente mais de 5 000 participantes (ABA e EABA).

Além destas, inúmeras outras associações aplicadas oferecem ao interessado um tesouro de informações, relatos de pesquisas, indicações bibliográficas, exemplos de aplicações e acesso a outras organizações correlatas através de hyperlinks lá disponíveis, como por exemplo, a OBM Network, grupo especial da ABA (www.obmnetwork.com) dedicada à Análise Comportamental das Organizações (OBM), a Behaviorists for Social Responsibility (www.bfsr.org), que estuda e discute temas tais como justiça social, direitos humanos, agressões ao meio ambiente, etc., sob a ótica da Ciência do Comportamento e outras, como o Cambridge Center for Behavior Studies (www.behavior.org), a Behavior Analyst on Line (http://www.behavior-analyst-online.org) ou a Divisão 25 da American Psychological Society, Experimental Analysis of Behavior (www.apa.org/divisions/div25).

A ABA edita desde 1968 os prestigiosos Journal of the Experimental Analysis of Behavior (JEAB) e o Journal of Applied Behavior Analysis (JABA) que podem ser consultados no site indicado. Temos também o The Behavior Therapist e o Behavior Therapy and Experimental Psychiatry como importantes fontes de dados para o interessado.



05}Um grande amor pode ser esquecido através do condicionamento?



RESPOSTA:
Uma das grandes alegrias de um professor é que o seu trabalho quase sempre o coloca em contato com o frescor e a honestidade da juventude. Que linda pergunta! Que pergunta fundamental! E que infelizes analistas do comportamento seríamos, se não levássemos em conta o amor. Todavia, antes de responder à pergunta de um ponto de vista técnico, peço-lhes que primeiramente me permitam tratar dela como uma pessoa. Um físico pode compreender tudo sobre a gravidade e suas implicações científicas e técnicas, mas não se espera que, por isso, ele possa tornar-se imune a ela: ele não conseguirá levitar. Igualmente, um analista do comportamento poderá talvez, num futuro distante, compreender tudo sobre o amor enquanto comportamento e conhecerá talvez todas as suas implicações científicas e técnicas. Entretanto, é minha firme convicção e esperança que, se este dia chegar, ele não se tornará imune ao amor. Que a cada vez que amar, o possa fazer com a sinceridade e a confiança ingênua do primeiro amor; assim fazendo, ele por certo tomará do fel que o amor sempre traz, mas terá também a alegria sem igual de beber-lhe o mel, que ele também sempre traz. Para menos que isso, não valeria a pena ter nascido humano!

Mas vocês me pedem que fale do comportamento amoroso e não do amor enquanto vivência. Então, vamos lá. Para começar, não é interessante constatar que, nesta pergunta, está sendo suposto que as palavras “grande amor”, “esquecimento” e “condicionamento” possuem, cada uma delas, um entendimento já sabido, comum e preciso? Pois bem: atrevo-me a afirmar que não mais que umas quinze pessoas em nossa Universidade – talvez menos - têm um entendimento técnico satisfatório do termo
“condicionamento”, em todos os seus desdobramentos conceituais e experimentais e, quanto ao fenômeno memorial “esquecimento”, precisaria de dez vezes o espaço desta entrevista para expor como nós, analistas do comportamento, compreendemos e demonstramos empiricamente a nossa compreensão naturalística dos comportamentos de lembrar e de esquecer.

Quanto ao “grande amor” ah!, o amor! de quantos e de quais das miríades famílias de amor estamos falando? Um “grande amor”
é uma experiência única e singular para cada um de nós, porque depende da nossa história única e singular; não existe “amor” em abstrato: existe o meu amor!

Porém, como sabem quase todos aqueles que, tendo vivido mais de trinta anos e tendo tido a extraordinária boa-má-sorte de experimentar um “grande amor”, grandes amores são, sim, esquecidos, ainda que na maioria das vezes sejam esquecidos em
termos. Assim, o fato existe e é notório. Agora, uma outra coisa é explicar porque “grandes amores” são (ou não são) esquecidos, ou seja, explicitar e demonstrar as variáveis críticas que podem responder pelo fenômeno. Aqui, estaremos lidando com as diferentes declarações verbais, as diferentes “teorias” que oferecem diferentes explicações para o fenômeno,
porque consideram diferentes variáveis independentes e declaram diferentes relações entre estas variáveis independentes e a variável dependente, no caso, o “esquecimento” ou seu inverso, a persistência do lembrar.

Não penso que poderia dispor aqui do espaço gráfico necessário para explicitar convincentemente estas variáveis e estas relações de uma perspectiva da Análise do Comportamento. Tudo o que posso dizer, em poucas palavras, é que o laboratório, tanto o laboratório animal quanto o laboratório operante humano, nos demonstra à saciedade os efeitos temporários das relações condicionais operantes e respondentes e nos permite demonstrar as variáveis naturais críticas que respondem por
diferentes persistências dos efeitos destas relações e pelas diferentes intensidades e peculiaridades delas.

Cada folha que cai de uma árvore descreve uma trajetória única e singular em sua queda, que possivelmente jamais se repetirá exatamente da mesma maneira até o fim dos tempos (ou até o talvez bem mais próximo fim das árvores, se continuarmos a tratá-las como vimos tratando...). Assim como a física não tem uma equação que possa dar conta da trajetória que toda e qualquer folha faria ao cair, também a Análise do Comportamento não pode dar conta do “esquecimento” de um “grande amor”.

Porém, assim como a física pode, em tese, dar conta de cada trajetória única e singular da queda de cada folha através dos mesmos e poucos princípios básicos, também a Análise do Comportamento poderá, em tese, oferecer uma explicação naturalística e uma demonstração empírica sólida e convincente para cada grande amor que se esqueceu (ou não se esqueceu) com os mesmos e poucos princípios básicos. Podemos tentar: qual é o seu?

Para saber mais:


*

Para uma introdução facilitada à matriz conceitual
analítico-comportamental, uma boa indicação é
Baum, William M. (1999). Compreender o behaviorismo: ciência,
comportamento e cultura. Porto Alegre: Artes Médicas. (A
biblioteca da UFSJ tem alguns exemplares).
*

Um livro já antigo e ultrapassado em alguns tópicos, mas
ainda útil para se conhecer os princípios fundamentais
(técnicos) da Análise do Comportamento (AC) e da
Análise Experimental do Comportamento (AEC) é Whaley,
Donald L. e Malott, Richard W. (1980). Princípios
elementares do comportamento. Volumes 1 e 2. São Paulo:
EPU. (A biblioteca da UFSJ tem alguns exemplares e os pequenos
volumes são de leitura agradável e interessante,
sobretudo pelos inúmeros exemplos cotidianos e práticos
que descreve).
*

No Campus Dom Bosco, visite-nos no LAPSAM/ NAC (Núcleo de
Análise do Comportamento). A nossa sala quase sempre tem
alguém e a turma é animada. Lá você será
bem recebido e orientado.




Análise Transacional


O que é Análise Transacional?

A Análise Transacional é um método psicológico criado por Eric Berne, psiquiatra canadense, em 1958. Aqui estão algumas de suas idéias chave. A referencia bibliográfica utilizada tem como base a Associação Internacional de Análise Transacional (ITAA), da qual Eric Berne foi o primeiro presidente.

EGO - Eric Berne considerou o Ego como um sistema formado por instâncias psíquicas: exteropsique, (Pai), neopsique (Adulto) e arquipsique (Criança), cada qual com seu conjunto de pensamentos, sentimentos e comportamentos com os quais interagimos com outras pessoas. Os estados de ego Pai, Adulto e Criança, e a interação entre eles, formam a base da teoria da Análise Transacional. Esses conceitos são utilizados em muitas áreas da psicoterapia, educação, consultoria, e quaisquer profissões que lidem com pessoas e grupos.

TRANSAÇÕES - As transações se referem a comunicação entre as pessoas. A Análise Transacional ensina a reconhecer qual o estado de ego que está operando no início da transação, e qual estado de ego do interlocutor responde, de tal modo que se consegue intervir interrompendo uma conversa desgastante, e desenvolvendo a qualidade e eficácia da comunicação.

RECONHECIMENTO - As pessoas necessitam serem reconhecidas pelo que são e pelo que fazem. A este reconhecimento damos o nome de Carícias, que são unidades de reconhecimento interpessoal necessárias para a sobrevivência e o desenvolvimento. Entender como pessoas dão e recebem carícias e mudar seus padrões de reconhecimento, são aspectos fortes do trabalho em Análise Transacional.

JOGOS PSICOLÓGICOS - Berne definiu certos padrões disfuncionais de comportamento como jogos. São transações repetitivas, instaladas com o objetivo de obter carícias. Diríamos que a pessoa busca resolver necessidades do passado no ‘aqui e agora’. Estas transações repetitivas reforçam sentimentos e auto conceitos negativos, mascarando a expressão direta de sentimentos e pensamentos. Eric Berne nomeou estes jogos por nomes fáceis de serem entendidos, de tal modo que ao se nomear o jogo já se sabe o processo.

ROTEIRO DE VIDA - Eric Berne propõe que o comportamento disfuncional é o resultado de decisões auto limitantes tomadas na infância, devido as necessidades de entendimento da situação e de sobrevivência. Tais decisões culminam no que Berne chama ‘script ou roteiro’, o plano pré consciente de vida que governa os caminhos da pessoa. Mudar o roteiro de vida é o objetivo da Análise Transacional em trabalhos individuais e grupais.

EU ESTOU OK – VOCÊ ESTÁ OK - "I'm OK - You're OK" é provavelmente a mais conhecida das propostas da Análise Transacional - estabelece a posição que reconhece o valor e a capacidade de cada pessoa. Analistas transacionais ensinam às pessoas que são basicamente OK e portanto capazes de serem amados, aceitos, pensarem, e estabelecerem relacionamentos saudáveis em suas áreas de expressão. Esta forma de pensar vai contra qualquer exercício do poder, buscando-se desenvolver a auto estima e cooperação entre indivíduos e grupos.

CONTRATOS - A prática da Análise Transacional é baseada no contato mútuo de mudança. Os analistas transacionais consideram as pessoas capazes de decidir o que desejam para suas vidas, exceto nos casos de desautorização legal. A Análise Transacional tem como um de seus postulados que ambos são responsáveis pelo trabalho contratado, buscando eliminar a posição passiva do consultado e incentivar transações positivas.

Texto - NOELIZA LIMA (Vice presidente – 2001).


Psicologia Transpessoal

O que é psicologia transpessoal?

É um ramo da psicologia que busca a compreensão dos múltiplos estados da consciência e propõe a superação dos conflitos por meio de uma “cosmovisão integradora”. Surgiu como evolução da psicologia humanista dos anos 60 e subverteu conceitos e práticas terapêuticas que marcaram a primeira metade do século 20. Em vez do determinismo das ações humanas e da ênfase na consciência normal em estado de vigília, implícitos nos princípios da psicanálise de Freud e na abordagem fisiológica do behaviorismo, a psicologia transpessoal realça os aspectos do chamado inconsciente coletivo e desafia o limite da ciência. Foi Jung, ex-discípulo de Freud, quem primeiro descreveu esse nível da mente e os fenômenos que lhe são associados. Tempos depois, baseado em pesquisas experimentais que incluíram sessões com LSD (para estudo dos estados alterados de consciência), um grupo de psicólogos americanos e europeus, liderado por Abraham Maslow e Stanislaf Grof, ampliou os conceitos junguianos e estruturou um novo tipo de psicoterapia. Os métodos da psicologia transpessoal abrangem experiências de expansão temporal e espacial da consciência – inclusive regressões a “vidas passadas” – como forma de conduzir o indivíduo a estados psíquicos superiores, que o ajudem a superar os condicionamentos do ego e a viver plenamente.


Sigmund Freud
(Psicanalista austríaco)
06/05/1856, Freiberg, atual Pribor (República Checa)
23/09/1939, Londres (Reino Unido)

O criador da psicanálise nasceu na região da Morávia, que então fazia parte do Império Austro-Húngaro, hoje na República Checa. Sua mãe, Amália, era a terceira esposa de Jacob, um modesto comerciante. A família mudou-se para Viena em 1860.

Em 1877, ele abreviou o seu nome de Sigismund Schlomo Freud para Sigmund Freud. Desde 1873, era um aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de Viena, onde gostava de pesquisar no laboratório de Neurofisiologia.

Ao se formar, em 1882, entrou no Hospital Geral de Viena. Freud trabalhou por seis meses com o neurologista francês Jean-Martin Charcot, que lhe mostrou o uso da hipnose.

Em parceria com o médico Joseph Breuer, seu principal colaborador, ele publicou em 1895 o "Estudo sobre Histeria". O livro descreve a teoria de que as emoções reprimidas levam aos sintomas da histeria, que poderiam desaparecer se o paciente conseguisse se expressar.

Insatisfeito com a hipnose, Freud desenvolveu o que é hoje a base da técnica psicanalítica: a livre associação. O paciente é convidado a falar o que lhe vem à mente para revelar memórias reprimidas causadoras de neuroses.

Em 1899, publicou "A interpretação dos sonhos", em que afirma que os sonhos são "a estrada mestra para o inconsciente", a camada mais profunda da mente humana, um mundo íntimo que se oculta no interior de cada indivíduo, comandando seu comportamento, a despeito de suas convicções conscientes.

Mesmo com dificuldades para ser reconhecido pelo meio acadêmico, Freud reuniu um grupo que deu origem, em 1908, à Sociedade Psicanalítica de Viena. Seus mais fiéis seguidores eram Karl Abraham, Sandor Ferenczi e Ernest Jones. Já Alfred Adler e Carl Jung acabaram como dissidentes.

A perda de Jung foi muito mais dolorosa, pois Freud esperava que o discípulo, suíço e protestante, projetasse a psicanálise além do ambiente judaico. Além de discordar do papel prioritário dado por Freud ao desejo, Jung se tornou místico.

Sensibilizado pela Primeira Guerra Mundial e pela morte da filha Sophie, vítima de gripe, Freud teorizou sobre a luta constante entre a força da vida e do amor contra a morte e a destruição, simbolizados pelos deuses gregos Eros (amor) e Tanatos (morte). A sua teoria da mente ganhou forma com a publicação em 1923, de "O Ego e o Id".

Em 1936, disse considerar um avanço seus livros terem sido queimados pelos nazistas. Afinal, no passado, eram os autores que iam à fogueira. Mas a subida de Hitler ao poder ditatorial não demorou e a perseguição aos judeus se intensificou. Em 1938, já velho e com câncer, fugiu para a Inglaterra, onde morreu no ano seguinte.

Com Martha Bernays, teve seis filhos. A caçula Ana tornou-se discípula, porta-voz do pai, e uma eminente psicanalista.

Atualmente, Freud continua tão polêmico quanto na época em que esteve vivo. Por um lado, é verdadeiramente idolatrado por seguidores ortodoxos da teoria psicanalítica - e, aliás, em vida, Freud demonstrava uma inegável satisfação em ser reverenciado como um gênio. Por outro, é visto também como um mistificador, principalmente a partir da década de 1990, quando as descobertas da neurociência questionaram muitos dos princípios fundamentais da psicanálise.

Carl Gustav Jung
(Psiquiatra suíço, fundador da psicologia analítica)
26/7/1875, Kassewil, Suíça
6/6/1961, Küsnacht, Suíça

"Minha vida foi singularmente pobre em acontecimentos exteriores. Sobre estes não posso dizer muito, pois se me afiguram ocos e desprovidos de consistência. Eu só me posso compreender à luz dos acontecimentos interiores. São estes que constituem a peculiaridade de minha vida e é deles que trata minha autobiografia."

Carl Gustav Jung foi um dos maiores estudiosos da vida interior do homem e tomou a si mesmo como matéria prima de suas descobertas - suas experiências e suas emoções estão descritas no livro "C. G. Jung - Memórias, Sonhos e Pensamentos".

Filho de um pastor protestante, Carl Gustav Jung, ainda pequeno, mudou-se para a cidade da Basiléia, na época um dos maiores centros de cultura da Europa. Lá realizou seus primeiros estudos. Formou-se em medicina pela Universidade da Basiléia, no ano de 1900, iniciando a seguir sua vida profissional no hospital psiquiátrico Burgholzi, em Zurique. Dois anos depois casou-se com Emma Rauschenbach, com quem teria cinco filhos.


Em 1903 publicou sua primeira obra, "Psicologia e Patologia dos Fenômenos ditos Ocultos", fruto de sua tese de doutoramento. Publicou nos anos seguintes mais três trabalhos, relacionadas à descoberta dos complexos afetivos e das significações nos sintomas das psicoses. Em 1905 tornou-se livre docente na Universidade de Zurique.


Em 1907 Jung visitou Sigmund Freud, o criador da psicanálise, em Viena, iniciando uma estreita colaboração com o mestre, que se mostrou impressionado com o talento do jovem discípulo. Os dois viajaram juntos aos Estados Unidos em 1909, proferindo palestras num centro de pesquisas. Em 1910 foi fundada a "Associação Psicanalítica Internacional", da qual Jung foi eleito presidente.
No entanto, em 1912, as primeiras divergências entre Jung e Freud começaram a aparecer, logo se tornando inconciliáveis. A partir do rompimento com Freud, o analista suíço vivenciou um período de depressão e introversão, que o levou a trilhar seu próprio caminho no campo da psicologia.


Em 1917, Jung publicou seus estudos sobre o inconsciente coletivo no livro "A Psicologia do Inconsciente" e, em 1920, apresentou os conceitos de introversão e extroversão na obra "Tipos Psicológicos". A partir daí, Jung construiu as bases da psicologia analítica, desenvolvendo a teoria dos arquétipos e incorporando conhecimentos das religiões orientais, da alquimia e da mitologia.


Sua produtiva carreira se materializou na publicação de dezenas de estudos, trabalhos, seminários e outras obras. Já octogenário, reuniu em livro as memórias de toda a sua vida. Carl Gustav Jung morreu aos 85 anos, como um dos mais influentes pensadores do século 20.




Sabina Spielrein
Paciente e depois amante de Jung, a russa Sabina Spielrein tornou-se teórica brilhante da psicanálise e elaborou a formulação pioneira da pulsão de morte Em 23 de outubro de 1906, Jung escreveu a Freud: "Estou aplicando atualmente o seu método ao tratamento de uma histeria. É um caso difícil: uma estudante russa de 20 anos, doente há seis anos... Primeiro trauma por volta dos 3, 4 anos...". Na carta, pedia o parecer de Freud sobre um dos sintomas: um estranho ritual "auto-erótico" ao evacuar.Freud respondeu que o "trauma aos 4 anos teria reavivado traços de memória do primeiro ou segundo ano..." e recomendou seus escritos sobre auto-erotismo anal. Jung manteve Freud informado durante o tratamento, sem nomear a paciente e, sobretudo, sem revelar que a análise tinha evoluído para um relacionamento amoroso. Ele tinha 30 anos; ela, 20.
Graças ao tratamento, ou à relação amorosa, a paciente, Sabina Spielrein, curou-se, terminou o curso de medicina, e em 1911 defendeu uma tese brilhante, "O conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia (demência precoce)", em que analisa uma paciente sua, antes tratada por Jung e, como ela, apaixonada por ele. Uma experiência clínica única: a médica e a paciente, ambas cativadas pelo amor por Jung; uma, apenas liberta de uma psicose, a escutar outra em pleno transtorno psicótico. Uma curiosa forma de auto-análise.
O texto de Sabina, lapidar para a teoria psicanalítica, conclui: "O inconsciente libera o presente no passado... o futuro individual torna-se um passado geral filogenético e, ao mesmo tempo, este último assume para o indivíduo o valor do futuro. Assim, vemos o inconsciente como algo que existe fora do tempo ou que é, ao mesmo tempo, presente, passado e futuro".
Mas a obra-prima de Sabina é de 1912, A destruição como causa do nascimento, que traz a formulação pioneira do conceito de pulsão (ou instinto) de morte: o medo, a ansiedade ou as vivências defensivas, que acompanham o instinto de procriação resultam de "sensações que correspondem à componente destrutiva do instinto sexual". Para ela, os casos de auto-erotismo, e mesmo "o auto-erotismo psíquico" (que ela enxerga em Nietzsche), mostram a face destrutiva do impulso sexual. O amor pela própria imagem, transformada no sexo oposto, leva à autodestruição no seu próprio sexo. "Por isso, nos casos de isolamento auto-erótico... achamos tão freqüentemente a componente homossexual".



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