sexta-feira, 21 de junho de 2013

A moto taxi e o detento

     No dia 11 de março de 2011, era uma sexta-feira, fui levar uma cliente na igreja . A mesma me convidou para assistir o culto e aceitei.
     Em oração pedi a Deus que me colocasse em meu caminho um homem carinhoso que me amasse e que me cuidasse. No mesmo dia, no culto dentro do presídio, ele pedia a mesma coisa...
     Quando foi domingo, umas onze da noite, recebi uma ligação. Era 13 de março, uma voz macia  pediu para falar com a Rosi moto táxi, achei que seria uma corrida , mas não era. Ele se apresentou dizendo que queria me conhecer, que uns amigos disseram que eu era trabalhadora, guerreira, mãe e pai dos meus filhos.
Então ele disse que era separado , que tinha uma filha , que gostaria de conhecer alguém para conversar, que se sentia muito sozinho.  Perguntei a ele como sabia tudo sobre minha pessoa e quem deu a ficha pra ele. Ele respondeu que na real ele estava dentro de um presídio e se eu não quisesse falar com ele , que ele iria entender e não me procuraria mais.
Não me neguei a conversar com ele, continuamos a conversar pelo celular, por muitos meses.
Eu levava duas mães para visitar seus filhos na modulada de Ijuí e os filhos delas, que falaram pra ele que eu existia. Aí entendi como ele soube da minha vida.
     Mandei livros, uma foto minha e uma carta através de uma das mães.   Aí então fui visitá-lo no dia do amigo, foi na ultima quinta-feira de março.
     Quando lá cheguei, nervosa, pois nunca tinha entrado num presídio,passei pela revista e fui para o pátio esperá-lo. Quando chamaram o nome dele, meu coração parecia que ia sair pela boca, quando na minha frete parou um rapaz muito bonito, simpático, cabelos escuros lisos, de calças jeans, camisa do Inter branca, com uma térmica e uma cuia na mão, uma manta e uma sacolinha. Me levou para sentar, cobriu o banco de cimento com sua manta e nos sentamos. Conversamos por horas. 
     Seus olhos me fitavam atentamente e sua boca linda e carnuda me deixava com água na boca. Quando menos esperei, me deu um beijo que jamais esquecerei . Ficamos ali, abraçadinhos, conversando sobre nossas vidas. Ali nasceu nosso amor.
     A despedida foi triste e dolorosa,pois eu não queria deixá-lo ali, se pudesse levava comigo. Me beijou intensamente como se fosse o último beijo e me deu uma bolinha de couro de presente. Me apelidou de bolinha , pois sou gordinha, mas adorei o apelido.
     Numa terça-feira de abril, eu estava na faculdade , quando recebi uma mensagem dizendo que ele havia sido transferido para Charqueadas. Fiquei nervosa e chorei muito, pois estava arrumando os documentos para entrar em seu nome como esposa. Ficamos alguns dias sem se falar até que um dia ele ligou dizendo que estava bem e que queria que eu fosse vê-lo. 
     400 km nos separava , mas não foi o bastante para nos separar, nosso amor era sem fronteiras. Então , peguei minha moto, era umas nove da noite e me mandei para Porto Alegre em busca do meu amor.
     Cheguei a Charqueadas por volta de cinco e meia da manhã, toda encharcada, pois choveu a noite toda. Quando avistei o presídio gritei bem alto em pé na moto: "Meu amor , estou chegando!".
     Fiquei na casa de uma guerreira , me troquei e fui para a modulada ver meu amor. Entreguei os documentos e entrei com esposa dele. Nossa , que emoção, mais que na primeira visita. Pois na íntima , pude tocar em seu corpo e nos amamos intensamente.
     Dois meses depois eu me mudei para Charqueadas onde o visitava duas vezes por semana sem faltar um dia se quer.
     Mas, por ironia do destino, tive de vir para São Paulo resolver uns problemas para poder viver feliz com ele. Minha família não aceitou nosso relacionamento, e me expulsaram de casa. Deixei meus filhos com meu pai e fui cuidar dele novamente, pois ele disse pro meu pai que ele cuidaria e sustentaria sua mulher. Mais uma vez, não pude ficar lá, precisei voltar , pois as crianças precisaram de mim. Ele não entendeu, que eu após resolver minha situação com as crianças, pois o pai delas faleceu,voltaria pra ficar a seu lado, mas... disse que eu dei as costas pra ele.
     Faz um ano que não nos vemos pessoalmente, mas nos falamos por telefone. Nos amamos muito e sofremos muito com a distância. Minha vontade é poder voltar a ficar lá com ele assim que se resolva tudo por aqui.  Estou sofrendo muito, pois meu amor por ele é imenso,e a saudade me maltrata muito, sinto falta de seus carinhos , de seu cheiro, do seu sorriso, do seu abraço, dos seus beijos, das nossas brincadeira e até mesmo das nossas brigas. Vivo pra ele e pros meus filhos. Não sei viver sem ele , mas o fato de ele dizer que dei as costas, me entristeceu a ponto de eu ter de me tratar por depressão. As vezes me liga dizendo que me ama , que sou a mulher da vida dele, outras me liga com dizendo que vai me matar porque sou só dele e de mais ninguém . Coloquei nas mãos de Deus, ele saberá o que fazer , pois ele nos colocou um no caminho do outro.  Mesmo distante, ligo pro presídio pra saber sobre ele , falo com juízes e direitos humanos, e lido com os documentos no aguardo do semiaberto, e na esperança de que caia toda sua cadeia.
     Peço a Deus que decida nosso caminho, que mesmo que nos separe , nunca deixarei de perder as esperanças de um dia poder vê-lo livre.
     E o dia em que a liberdade cantar pra ele, quero estar lá, para dar um abraço e dizer que , ainda o amo e que sempre o amarei ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário